O Governo de Mato Grosso sofreu um prejuízo de R$ R$ 493 milhões com a emissão das cartas de crédito para os Agentes de Administração Fazendária (AAF’s), em vez de ter obtido uma economia de R$ 800 milhões com o acordo feito com os servidores. Essa é a conclusão de uma auditoria de 97 páginas realizada pela AGE (Auditoria Geral do Estado) sobre as cartas de crédito emitidas pelo Governo em favor de aproximadamente 300 AAF’s. O pagamento deriva de acordo celebrado em 2008 pelo então governador Blairo Maggi com o sindicato dos servidores (SAAFEMT), com a intermediação do deputado Gilmar Fabris, e pôs fim há 12 anos de disputa judicial.
Para a AGE, a economia de R$ 800 milhões não passou de uma “simulação do SAAFEMT”. Procuradores de Estado disseram extra-oficialmente a HiperNoticias que quem negligenciou nos cálculos foi a AGE, e que se estes forem refeitos, inclusive com as atualizações, o valor da dívida hoje pode dobrar, ultrapassando os R$ 2 bilhões. Oficialmente, contudo, ninguém fala a respeito. Talvez porque a única pessoa que refez os cálculos e apontou um valor a maior que o acordado é o contador Antonio Barros de Leite Neto, preso no último dia 14 pela Polícia Fazendária, depois que apresentou uma perícia nos cálculos a pedido da SAAFEMT.
![]() |
É neste contexto que, além de um pesado esquema de corrupção que vai ganhando os contornos de maior escândalo político de Mato Grosso das últimas décadas, a operação “Cartas Marcadas” desencadeada pelo Ministério Público Estadual e Polícia Fazendária também revela uma guerra antes surda entre a AGE e a PGE. Porém, a guerra vai se tornando ensurdecedora na disputa entre as duas instituições sobre a competência institucional de cada uma, e, principalmente, na determinação de quem é a responsabilidade pelo suposto prejuízo do Erário.
HiperNoticias obteve cópia da Auditoria assinada pelas auditoras Mônica Cristina dos Anjos Acendino, Kristiane Marques Dias e Cristina Santos Vilela, além do Auditor-Geral José Alves Ferreira Filho. No documento eles sustentam que em vez de R$ 1,207 bilhão, alegado para a formalização do acordo, cujos cálculos foram feitos pelo sindicato sobre a o processo judicial, a dívida do Estado com os Agentes da Sefaz (AAF’s) seria de apenas R$ 382.515.961,79. Se aplicado o desconto 62,78% dado pelos servidores ao Governo, o valor que deveria ter sido efetivamente pago era de R$ 142.372.440,98, em vez dos R$ 472.413.796,22, divididos em duas certidões para cada servidor.
Até aqui o prejuízo seria de R$ 330,041 milhões.
Contudo, a AGE revela que foram emitidas indevidamente outras cinco cartas de crédito em favor dos mesmos servidores, a pretexto de correções, honorários advocatícios e adicional de 14% que não teria sido calculado sobre os subsídios de maio de 2010. Esses pedidos totalizaram mais R$ 163.866.447,84. O parecer não deixa claro qual o valor da Carta 7, nem se ela chegou a ser emitida, ou seja, o prejuízo do Estado pode ser ainda maior.
![]() |
Aqui o confronto entre AGE e PGE começa a esquentar porque, segundo o relatório da Auditoria, foi a Procuradoria que autorizou os pagamentos extras, considerados indevidos, depois que foi solicitada pela Secretaria de Administração (SAD) a emitir parecer sobre pedidos posteriores do SAAFEMT, em setembro de 2010. Esses pagamentos geraram, inclusive, um Aditivo ao Termo de Acordo celebrado em 2008.
BRIGA ENTRE PGE E AGE É ANTIGA
A disputa entre AGE e PGE é antiga, mas se acentuou com a edição da Lei Complementar 413/2010, dando a Auditoria poderes de Corregedoria, função que antes pertencia à Procuradoria.
Em março deste ano, o Procurador Geral Jenz Prochnow Jr encaminhou um estudo ao governador Silval Barbosa apontando a inconstitucionalidade da LC 413. De acordo com a PGE, “a transferência é inconstitucional porque estende a competência expressamente estabelecida pelo artigo 74 da Constituição Federal e pelo artigo 52 da Constituição Estadual”.
Embora tenha negado o conflito, o Auditor-Geral José Alves Ferreira Filho diz que “a única dúvida que trás o artigo oitavo (da LC 413) é de quem é a competência [pela investigação ao servidor, se é do auditor ou do secretário, mas a partir da nova lei isso vai ficar delimitado”, argumentou o auditor, à época. O Governo deverá fazer alterações na Lei. Veja mais aqui e aqui.
PLACAR ESTÁ AGE 3 x 0 PGE ATÉ O MOMENTO Na disputa entre as duas instituições do Estado, por enquanto a AGE vai ganhando de 3 x 0 da PGE. Primeiro, conseguiu manter-se, pelo menos por enquanto, no papel de Corregedoria, o que foi contestado pela Procuradoria. Segundo, a AGE tomou o lugar da PGE na auditagem dos problemas com as cartas de crédito, segundo o decreto 766/2011, baixado pelo governador Silval Barbosa no dia 14 de outubro passado. No parágrafo segundo do artigo primeiro, o decreto diz que “tratando-se de cártula de certidão de crédito ou do direito cujo processo possua valor superior a vinte salários mínimos vigentes na data da respectiva emissão ou reconhecimento, a regularização perante a Secretaria de Estado de Administração será instruída de parecer prévio da Auditoria Geral do Estado, obtido pela unidade do Poder Executivo Estadual que a tenha expedido”. E, terceiro, a AGE dá um xeque-mate na PGE ao elencar no seu relatório uma série de irregularidades que teriam sido cometidas pela procuradoria no processo de expedição das cartas de crédito dos Agentes de Administração Fazendária, a ponto de ter-se especulado bastante antes da operação ‘Cartas Marcadas’ que haveria procuradores de Estado na lista de busca e apreensão e até mesmo de prisão, embora não tenha se confirmado. SEIS PESSOAS FORAM PRESAS NA OPERAÇÃO CARTAS MARCADAS A Polícia Fazendária investiga o caso desde julho deste ano. No dia 14 deste mês, deflagrou uma operação que levou seis pessoas à prisão provisória, incluindo advogados que representaram os servidores, o ex-presidente do sindicato, servidores públicos e um contador que recalculou os valores devidos, além de ter realizada buscas e apreensões de documentos contra outras 14 pessoas, incluindo as residências do deputado estadual Gilmar Fabris. O Sindicato e o Deputado já conhecem o estudo da AGE, e o contestam, classificando-o de equivocado. Segundo Gilmar Fabris, se o problema são os cálculos, basta se contratar uma auditoria independente para dirimir as dúvidas. “Não precisa prender ninguém por causa disso”, frisa. Já em entrevista a TV Centro América (Globo, canal 4) na semana passada, chegou a xingar José Alves de “burro”.
MAIS SOBRE O ASSUNTO:
Delegado intima senador Blairo Maggi e deputado Gilmar Fabris para depor
Presos na operação ‘Cartas Marcadas’ colaboram e começam a ser liberados nesta segunda-feira
‘Se quiserem esclarecer o caso das cartas de crédito chamem Blairo Maggi’, sugere Riva
Honorários cobrados dos AAF's por advogados foram de 20% e não de 54%
Gilmar Fabris condena operação 'Cartas Marcadas' e classifica prisão de concunhado de 'arbitrária'
Grupo criminoso se instalou no Governo, afirma delegada que liderou operação “Cartas Marcadas”
EXCLUSIVO: Mega-operação policial cumpre mandados de busca e de prisões no caso “Cartas de Crédito”
Governo sanciona nova lei revogando isonomia de agentes da Sefaz com Grupo TAF
Clique aqui e faça parte no nosso grupo para receber as últimas do HiperNoticias.
Clique aqui e faça parte do nosso grupo no Telegram.
Siga-nos no TWITTER ; INSTAGRAM e FACEBOOK e acompanhe as notícias em primeira mão.
amanda 08/05/2012
QUEM DEVIA SER PRESO NO CASO SERIA O GOVERNADOR E O SECRETARIO DE AMDINISTRACAO POR DESOBIDIENCIA JURIDICA , POIS A CATEGORIA GANHOU A CAUSA NO STF NAO CABENDO MAIS RECURSO , NO ENTANTO , ATE HJ O ESTADO NAO ACATOU A DETEMINACAO JUDICIAL , OLHA QUE ISSO JÁ TEM MAIS DE 5 ANOS , SE CUMPRISE ESSA ORDEM ESSA DIVIDA NAO TERIA ESSA DIMENÇAO .
Sofia Fonseca 19/12/2011
É de um desconhecimento absurdo esse \"só recorreram da isonomia\". Se a isonomia fosse reconhecida, os reajustes viriam, como vieram, automaticamente. Se a isonomia caísse - como pretendeu a PGE - ia reajustar o quê? Regra simples de direito: o acessório segue o principal. Acho melhor os dignos contadores estudarem direito e, caso desejem, prestar concurso para Procurador.
2 comentários