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Artigos Terça-feira, 15 de Julho de 2025, 08:44 - A | A

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Terça-feira, 15 de Julho de 2025, 08h:44 - A | A

RODRIGO MENDES

Papai Noel chegou mais cedo para Lula

RODRIGO MENDES

As pesquisas de avaliação de gestão não andavam nada amigáveis com o presidente Lula (PT). Desaprovação e rejeição ao mandatário eram crescentes. Uma série de razões explicam tais percepções: elas vão desde a inflação no preço dos alimentos, da avaliação negativa na segurança e na saúde à quebra de expectativa, promessas eleitorais não cumpridas, comparação ruim entre os governos Lula 3 com Lula 1 e 2. Acrescenta-se ao quadro uma ausência de posicionamento claro e a falta de um discurso que sustentasse o pedido de votos para um quarto mandato. O governo parecia mais um grande barco à deriva, a água já estava entrando nos porões.

Veio uma primeira tentativa de construção de novo caminho quando a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que suspende os efeitos de decretos do governo que aumentavam o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e o lançamento de uma série de vídeos produzidos com inteligência artificial pelo PT. A campanha era baseada em uma antiga estratégia da propaganda política denominada por Domenach como a “lei da simplificação e do inimigo comum”. O inimigo passa a ser a Câmara dos Deputados juntamente com os ricos, representados pelos BBBs – bilionários, bancos e Bets. Pela narrativa sugerida, o PT passa a ser o defensor dos pobres.

Nada muito diferente do que o partido já havia feito em eleições passadas contra o PSDB. Segundo analistas da cena digital (mesmo que debaixo de muita polêmica), foi a primeira vez que o partido conseguiu sair das cordas contra a direita e ter algum protagonismo nas redes sociais.

Foi, então, que Papai Noel resolveu antecipar sua vinda lá do Norte e trazer um presente para o presidente Lula: o anúncio da sobretaxação de 50% para os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos. Noel, travestido de Donald Trump, foi o emissário do presente.

A jogada, que junta Eduardo e Jair Bolsonaro (PL), associados com Steve Bannon, ex-assessor de Trump, e o governo americano foi de altíssimo risco, com consequências imprevisíveis.

Uma das consequências: dar de bandeja à esquerda um discurso, um slogan e um inimigo externo, devolvendo ao presidente Lula um inesperado protagonismo, que ele tanto precisava. Outra foi recolocar na mesa uma lógica fundamental à sobrevivência política do PT, a polarização (que sempre existiu no Brasil) contra o bolsonarismo. Porque neste cenário, as rejeições altíssimas se anulam e viram um jogo decidido não pelos extremos, mas pelo centro não polarizado.

A estratégia de negociação de Donald Trump não é nenhuma surpresa. No seu livro, escrito em parceria com Tony Schwartz de 1987, “A Arte da Negociação", Trump já revelava sua abordagem para fechar negócios.

O método de negociação de Trump pode ser resumido na seguinte lógica: fazer uma barganha excessivamente alta e forçar o oponente a negociar. Em outras palavras: puxar a faca, chamar o outro país para o ringue e negociar em condições favoráveis, conseguindo uma alternativa melhor que a atual.

A proposta de 50% de sobretaxa nas exportações brasileiras é "um pedido ridiculamente alto", exatamente como está proposto no livro. Fez o outro lado (o Brasil) se mover, impeliu as forças econômicas prejudicadas a se mobilizarem e pressionarem o governo. E agora os Estados Unidos esperam uma contraproposta que, em tese, seja vantajosa a eles, embora, quando comparada à oferta inicial, os 50%, cause na outra parte (o Brasil) uma sensação de que ela conseguiu evitar um desfecho desfavorável.

Ou seja, está implícita na estratégia de Trump que eles vão negociar, mesmo que não seja agora. No momento, politicamente, interessa deixar a situação tencionada.

Ocorre que negociação entre nações, pautada pelo pragmatismo bilateral, diferentemente da lógica trumpista e bolsonarista, não são resolvidas com conversa de botequim, como sugere Steve Bannon: derrubem o processo contra Bolsonaro, derrubamos as tarifas”. Existe uma institucionalidade a ser respeitada e muitos bilhões em jogo. E quem são os protagonistas institucionais? O presidente da República, o ministério das relações exteriores. Misturar política, bravatas e ameaças com interesses do comércio internacional e relação entre nações, o que Trump faz sem problema algum, não é algo sem consequências. Misturar política com questões de Estado é, no mínimo, temerário.

Quem viu o filme “O Aprendiz" (The Apprentice), que conta a história de Donald Trump e seu advogado Roy Cohn, pode constatar que Trump está longe de ser um sujeito confiável e que não há limites para que seu interesse e de seu país prevaleçam.

Sendo assim, para ele, não há problema misturar questões eleitorais com política de Estado. Foi isso que ele fez: de forma galhofeira, misturou a negociação dos 50% sobre os produtos brasileiros com a defesa de Bolsonaro, com defesa de anistia dos que eventualmente tentaram dar um golpe, acusações ao STF de promover injustiças etc.

Eduardo e Jair Bolsonaro, associados a Bannon, acharam que iriam criar o problema, para depois serem aqueles que o resolveriam. Parece que o tiro saiu pela culatra.

Conseguiram produzir um efeito quase impensável: uniram o Brasil – do conservador Estadão, empresários exportadores, sobretudo do agronegócio, à esquerda do PT ao PSOL.

Tarcísio de Freitas, o governador de São Paulo, um dos estados mais prejudicados com as medidas de Trump, pressionados pelos empresários, percebeu o tamanho do problema e tentou se movimentar. Parece que entrou de gaiato no navio. Fez uma ação errática e à margem da institucionalidade. Foi obrigado a recuar. Na verdade, Tarcísio se move em um fio de navalha. Depende eleitoralmente do aval de Bolsonaro e do bolsonarismo radical se quiser ser candidato a presidente, mas sua função de governador e sua relação com os partidos do Centrão o impelem a adotar uma postura moderada e responsável.

O resumo da ópera: parece que os Bolsonaro (especialmente o filho Eduardo) viraram, ao invés de solução, parte do problema. Deram o presente antecipado a Lula.

A questão é que as festas natalinas acontecem muito antes da eleição. Mesmo Lula tendo ganho esse presente, o pleito de 2026 ainda está distante. E independente do desfecho das negociações, a situação tem potencial para produzir mais inflação (além de prejuízos e desemprego em setores estratégicos da economia brasileira).

Esta inflação pode prejudicar os mais pobres, tradicionalmente fiéis a Lula, mas que vinham se afastando do petista. Ou seja, o fato de o governo ter ganho um discurso, um inimigo externo, e com isso uma plataforma com potencial para unir a nacionalidade, não elimina os grandes problemas não resolvidos. Para citar alguns: a questão fiscal, o descontrole dos gastos públicos, a inflação e os juros altos e a sensação de insegurança. O governo ainda precisa fazer o seu dever de casa interno.

Contudo, é inegável que o presidente Lula agora ganhou um novo fôlego. Reforça a polarização contra os Bolsonaro, ganha um “inimigo comum” internacional e passa a ter um protagonismo na defesa dos interesses nacionais.

(*) RODRIGO MENDES é Publicitário, sociólogo e cientista político, especialista em marketing, e mestre em Ciência Política pela UFMG. Foi professor da pós-graduação em Marketing Político – UFMG. Foi assessor de marketing da Prefeitura de Belo Horizonte e Secretário de Comunicação do Mato Grosso do Sul. Consultor dos Governos de Alagoas e Sergipe e das Assembleias Legislativas de MG e PB. Foi consultor do Tribunal Superior Eleitoral/TSE, de 2004 a 2010, sendo responsável pela Campanha Vota Brasil. Atuou em mais de 62 campanhas eleitorais em todo Brasil. Autor dos livros MARKETING POLÍTICO - O PODER DA ESTRATÉGIA NAS CAMPANHAS ELEITORAIS e coautor de MARKETING ELEITORAL: APRENDENDO COM CAMPANHAS MUNICIPAIS VITORIOSAS e do e-books NOVAS ESTRATÉGIAS ELEITORAIS PARA UM NOVO AMBIENTE POLÍTICO.

 

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