Os primeiros goles vieram ainda na adolescência. Naquela fase era tudo muito bom, beber me parecia extremamente divertido. Bebendo eu ficava mais participativo, muito comunicativo e claramente mais descontraído. Era gostoso sentir que eu fazia parte, alimentando a sensação de me sentir importante. Beber até ir embora carregado, ou dormir totalmente bêbado em um salão sujo de bar não me incomodava. Afinal, eu achava que estava apenas me divertindo.
Cada vez mais eu me distanciava dos meus familiares e de todos aqueles que não compartilhavam comigo daquele modo doentio de beber. Eu classificava, com convicção, que todas as pessoas que não bebiam eram muito chatas e implicantes. Mas, tudo bem, aqueles que bebiam comigo me bastavam. Contudo, ao contrário do que eu previa, isso foi me trazendo um caminho de medo, dor e escuridão.
Aquela sensação satisfatória e prazerosa de leveza, descontração e coragem que encontrara nos primeiros anos de bebedeiras já não existia mais. Tudo havia se tornado muito escuro e assustador. E eu me via cada vez mais isolado, longe de tudo e de todos. Encontrei-me um dia no meu mais doloroso fundo de poço.
Começou aí a minha luta contra o álcool. Eu fazia de tudo para não beber. Buscava todas as formas para reconstruir minha vida, mas qualquer que fosse a tentativa, eu sempre fracassava. Mudei de cidade, saí da capital e fui morar no interior, na zona rural, acreditando mesmo que um novo ambiente, com pessoas novas, seria a grande solução. Mas novamente eu fracassei. O resultado foi novo ambiente, novas pessoas, mesmas atitudes, mesmas bebedeiras.
Foi nesse período que eu entendi melhor e tive certeza da verdade contida em uma máxima repetida pelos companheiros mais antigos: fuga geográfica não cura a doença do alcoolismo.
No ano de 2011, quando comecei a me relacionar com minha atual esposa, foi que eu tive o primeiro vislumbre de uma luz no fim do túnel. O pai dela, meu sogro, era membro de Alcoólicos Anônimos, e percebendo que eu tinha um sério problema com o álcool, convidou-me para assistir a uma reunião de A. A. Até então eu não sabia nada dessa irmandade, mas desde o primeiro contato passei a me interessar por tudo que via e ouvia ali, fiz boas amizades, adquiri literaturas, envolvi-me de corpo e alma.
Hoje sou extremamente grato a Alcoólicos Anônimos, que me devolveu a vida, trouxe luz para o meu caminho, fez-me renascer e sentir a alegria de viver, a cada novo dia. Nunca me canso de agradecer a um Poder Superior, que para mim é Deus, e que eu encontrei em Alcoólicos Anônimos, por ter me dado uma família e, através dessa família, permitir que eu conhecesse melhor A.A. e me beneficiasse desse envolvimento com essa irmandade.
Na zona rural de Mato Grosso, aonde eu moro, não há reuniões presenciais, mas mesmo assim eu continuo fazendo a minha recuperação por meio de literaturas e principalmente assistindo reuniões à distância (on-line). É esse comprometimento que adquiri com Alcoólicos Anônimos que tem salvado a minha vida, a cada período de 24 horas.
(*) WILLIAM é nome fictício em respeito à tradição do Anonimato.
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