Há alguns anos, encontrava-me no fundo do poço, em completa falência emocional, física e espiritual, e foi assim que adentrei às portas do Grupo Central de Alcoólicos Anônimos, em Cuiabá. Fui conduzido por um amigo de longa data, que eu não sabia ser membro de AA, após ter sido preso em flagrante por embriagues ao volante.
Ao adentrar na sala, tive a mais amorosa recepção da minha vida, me deram as boas-vindas e disseram que eu era a pessoa mais importante da reunião, de modo que fiquei surpreso com aquela acolhida, já que as pessoas da minha família e da sociedade evitavam a minha presença, pelo fato de minha condição de extrema insanidade.
Após alguns depoimentos, me informaram que o alcoolismo é uma doença progressiva, incurável e fatal, e foi naquele momento que senti um grande alívio emocional acerca da culpa que me acompanhava durante anos, ao longo da minha vida ativa, em razão de minha forma de beber compulsiva.
Ouvi alguns relatos dos companheiros presentes, alguns há meses evitando o primeiro gole, outros com alguns anos de sobriedade, e senti-me atraído por aquele programa, experimentando a sensação, pela primeira vez, de uma grande esperança. Percebi que também conseguia evitar o primeiro gole, pois eu não me considerava diferente daquelas pessoas que estavam conseguindo. Foi com esse estado de espírito que eu me declarei membro já naquela primeira reunião.
Ouvi a sugestão de continuar voltando e, durante 90 dias, assisti cerca de 200 reuniões no meu grupo base, e logo fui estimulado a integrar o serviço do grupo.
Com o decorrer das reuniões, ouvi alguns companheiros mais antigos falando sobre o aspecto espiritual do programa, mas eu não conseguia compreender sobre o que estavam falando, pois eu não tinha nenhuma prática religiosa ou qualquer outra conduta voltada ao plano espiritual, embora tivesse recebido instruções sobre a religião, durante toda a minha infância.
Em uma reunião, ao ouvir sobre o teor espiritual do programa, tive um despertar, e me veio a reflexão de que somente algo muito poderoso, que eu não via e não compreendia, poderia ter me livrado do pensamento obsessivo e da compulsão física pela bebida. Cabe lembrar que desde a primeira reunião em que estive, não tive mais vontade de beber e estava conseguindo evitar o primeiro gole, sem o auxílio de nenhum medicamento ou tratamento psicológico ou psiquiátrico.
Conclui, então, que os companheiros que afirmavam que há um aspecto espiritual em nosso programa, estavam certos, e tive a convicção plena de que se eu me mantivesse integrado à irmandade, continuaria desfrutando de todo o amparo e proteção que me eram concedidos, gratuitamente, pelos emissários divinos, pelos agentes celestiais, pelos abnegados trabalhadores do Poder Superior, Deus, na forma em que o concebo.
Como certa feita relatou Bill W., hoje eu também acessei a quarta dimensão, dispensando especial atenção e cuidado ao meu espírito, embora compreenda que também há necessidade de idêntica atenção ao corpo físico, esse veículo que me permite desfrutar dessa experiência terrena.
(*) ARNALDO é nome fictício em respeito à tradição do Anonimato.
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