De acordo com o site Intercept Brasil, a Unimed Cuiabá contratou, por R$ 2,4 milhões, delegados licenciados da Polícia Federal para fazer uma devassa na gestão da cooperativa médica. A empresa dos delegados, Trinity Consultoria, começou a receber os valores em abril de 2023 e, menos de dois meses depois, estourou o escândalo sobre a fraude de mais de R$ 400 milhões no balanço fiscal de 2022, referente a gestão anterior.
Os contratos com entre a Unimed Cuiabá e Trinity, de acordo com o Intercept, começaram com R$ 87 mil mensais mas logo escalonaram para R$ 125 mil mensais, além de previsão, em contrato, de “honorários de êxito”, caso a empresa conseguisse recuperar o dinheiro fraudado. Chamou a atenção da reportagem o fato de que a empresa, sediada em Blumenau (SC), ter um capital social declarado de apenas R$ 10 mil e ter sido criada nove dias antes de fechar o contrato milionário com a cooperativa.
O contrato firmado entre a Trinity e a Unimed Cuiabá previa um trabalho de diagnóstico e revisão de processos nas áreas de segurança, conformidade e integridade, típico de compliance. No entanto, documentos revelados pelo Intercept mostram que a atuação da Trinity teve impactos mais amplos.
CRISE, PAGAMENTOS E OPERAÇÃO
Segundo ofício da própria Unimed, o trabalho milionário da consultoria, em meio à crise da cooperativa, que chegou a pedir um aporte de R$ 150 milhões aos médicos cooperados, foi fundamental para o acordo de leniência com o MPF, para responsabilizar antigos gestores, embasar a Operação Bilanz da PF e subsidiar ações cíveis, criminais e denúncias internas à cooperativa.
"Os trabalhos resultaram na base do sucesso do acordo de leniência junto ao MPF [Ministério Público Federal], no entendimento da ANS na responsabilização dos antigos gestores, na operação Bilanz da Polícia Federal e em várias ações de responsabilidade cível e criminal, assim como fundamentação de denúncias", diz trecho de ofício da cooperativa à empresa dos delegados federais.
A citada operação Bilanz, deflagrada pela PF e MPF em 30 de outubro de 2024, apurou suposto esquema da fraude fiscal na Unimed.
LEIA MAIS: Veja função dos envolvidos no suposto rombo de R$ 400 milhões da Unimed Cuiabá
Uma semana depois de deflagrada a operação Bilanz, a atual gestão firmou novo contrato com a Trinity com pagamentos em “função de sucesso”.
“Se o plano de saúde recuperar até R$ 15 milhões, a firma dos delegados da PF receberá 9% (ou R$ 1,35 milhão). Caso a recuperação varie de R$ 15 milhões a R$ 45 milhões, o valor a ser pago à consultoria será de 7% (oscilando de R$ 1,35 milhão a R$ 3,15 milhões). E se a recuperação passar dos R$ 45 milhões, a firma dos delegados receberá 4% do total”, diz trecho da reportagem da Intercept, cujo valores estariam relacionados a seis ações cíveis ajuizadas pelos advogados do plano de saúde.
PAGAMENTOS MILIONÁRIOS EM MEIO A CRISE
O próprio relatório de demonstrações financeiras de 2024 reconhece que a cooperativa atravessa uma fase financeira delicada.
“Os desafios para recuperação e completa estabilização da Unimed Cuiabá são hercúleos e desta forma, se torna ainda mais imprescindível o apoio e esforço conjunto de todos os cooperados, rede de prestadores e equipe de colaboradores para que possamos continuar avançando”, diz trecho do relatório em mensagem destinada aos médicos cooperados.
Desde 2024, não foram poucas as reclamações de clientes relatando a superlotação e falhas no sistema em laboratórios da Unimed, cuja causa provável teria sido o descredenciamento de empresas privadas de exames. Em janeiro do mesmo ano, a Unimed fechou um acordo para encerrar uma ação milionária após rompimento unilateral entre a cooperativa e a Unimed e a Oncomed, que interrompeu o tratamento de quase 200 pacientes com câncer da clínica.
Em fevereiro de 2025, a Justiça de Mato Grosso suspendeu um aporte financeiro de R$ 150 milhões dos médicos cooperados para a Unimed Cuiabá, que foi considerada indevida sem a prévia aprovação da ANS. No mesmo mês, outra decisão judicial proibiu a cooperativa de cobrar R$ 311.892,83 de uma médica cooperada e de incluir seu nome em cadastros de restrições de créditos. A sentença se fundamentou na falta de transparência contábil do plano de saúde.
LEIA MAIS: Justiça impede a Unimed Cuiabá de cobrar aporte de médicos sem anuência prévia da ANS
Ainda este ano, os clientes foram pegos de surpresa pelo fechamento das farmácias Unimed, que oferecia descontos em medicamentos e outros produtos. O argumento para o encerramento das atividades, segundo a própria Unimed, se refere a reestruturação e mudança no modelo de negócio.
Clique aqui e faça parte no nosso grupo para receber as últimas do HiperNoticias.
Clique aqui e faça parte do nosso grupo no Telegram.
Siga-nos no TWITTER ; INSTAGRAM e FACEBOOK e acompanhe as notícias em primeira mão.