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Cidades Domingo, 14 de Maio de 2017, 08:00 - A | A

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Domingo, 14 de Maio de 2017, 08h:00 - A | A

AVÓ É MÃE DUAS VEZES

"Eu passo o que passo, mas sou uma mulher feliz", diz avó desempregada que cuida de 8 netos

CAMILLA ZENI

Ana Maria Esidoro tem 63 anos. É mãe de seis filhos e avó de 14 netos. Conhecida na região como Dona Ana, a idosa fixou moradia no Parque Geórgia há 30 anos. Praticamente fundou o bairro, se orgulha em dizer. A região cresceu, mas foi ingrata com a senhora. O tempo passou e trouxe prosperidade, mas só ao redor. Sua casa ainda é de madeira e seu chão é terra batida.

 

Edson Rodrigues

dona ana

Dona Ana tem 63 anos e cuida sozinha dos oito netos que moram com ela 

Por causa da idade, dona Ana não trabalha. Mas não é porque não quer, nos alertou. “Eu gosto de trabalhar. Enquanto eu tiver força, eu vou trabalhar”, ela disse. Com isso, a senhora sobrevive de bicos, com faxinas e lavagem de roupas, ofertados por aqueles que já a conhecem. Os demais, mal a olham nos olhos. “Ninguém quer dar serviço. Eles devem ter medo de eu cair, eu acho”.

 

Dona Ana é mais uma das tantas guerreiras que o mundo tem. Criou seus filhos sem ajuda do marido, que só voltava para casa quando não tinha dinheiro no bolso. A idosa não teve estudo. Trabalhou de babá, cozinheira, passadeira, faxineira. Cavou terra, carpiu quintais. Com suor no rosto, ela encaminhou todos os filhos para a vida adulta. Infelizmente, quis o destino lhe tirar um deles. Douglas. Morreu há seis anos, quando tinha 34. Não era o caçula, mas era o mais apegado. O mais amoroso e prestativo. Sua ausência ainda pesa no coração de dona Ana, que chora ao falar do filho, e se emociona ainda mais ao carregar sua neta Maria Clara no colo. A criança é a lembrança viva da existência do filho perdido.

 

Além de Clara, outros 13 netos fazem morada no seu coração. Desses, oito estão presentes fisicamente, dia e noite. “Tem criança de tudo que é idade”, nos contou. Os mais velhos também estão encaminhados. Alguns já até casaram. Os pequenos ficam sob seus cuidados, recebendo educação, proteção e amor. “Pra mim, é uma alegria cuidar dos meus netos”, afirmou entre lágrimas. “Eu passo o que passo, mas sou uma mulher feliz”. Às vezes, a teimosia dos pequenos a faz mandar as crianças embora. Mas o coração da avó aperta, e eles voltam. 

  

A casa onde encontramos dona Ana, que, na realidade, pertence à sua filha, tem duas partes. Na frente, uma casa de alvenaria com dois cômodos, divididos por uma cortina, abriga os familiares. É ali que os nove se apertam para dormir e assistir a uma pequena TV antiga, ainda de modelo tubo. Atrás, um barracão de madeira onde dona Ana guarda suas panelas, vasilhas e alguns mantimentos. Segundo a idosa, a parte de trás era onde a família morava. No entanto, a sogra da filha construiu a parte da frente quando a nora ficou grávida.

 

O local onde a senhora e suas oito crianças moram não é um lixão. Não é afastado do centro urbano. Ainda assim, é a sensação que nos traz. O Parque Geórgia é mais um dos bairros localizados na grande região do Coxipó. Vizinha do Jardim Gramado e da comunidade São Gonçalo Beira Rio.

 

A área não recebe tantos reconhecimentos. Também não é tão visitada. Entre o bairro, uma importante rua foi asfaltada para o desvio de carros durante as obras da Copa do Mundo, sediada na Capital em 2014. Com a abertura da ponte Professor Benedito Figueiredo, que passa sobre o Rio Coxipó, os transeuntes vêm e vão, sem notar ou se importar com a realidade daquela comunidade.

 

Edson Rodrigues

dona ana

 Crianças brincam em meio aos entulhos do quintal de casa

“Nós aqui somos abandonados. Você vê que a rua aqui é toda assim”, comentou. “Só aparece gente pra ajudar a gente na época de política”. E nem parece que o local é berço de um dos atuais deputados estaduais.

 

Na rua de dona Ana, a estrada é de terra. Águas que escorrem por entre as valas abertas são, na verdade, esgoto a céu aberto. Ao final do caminho, um matagal. É com ele que a idosa e suas crianças dividem a vizinhança. Aliás, seu quintal é um misto de mato, com entulhos e lixo.

 

A certa altura, o incômodo passa a ser as visitas indesejadas. caramujos, ratos, cobras e sapos. “Eu já cansei de matar cobras, mas a gente preocupa com o caramujo, que dá muita doença, né?”, comentou. Mas até a senhora de 63 anos tem uma limitação: “Sapo. Chove e aparece sapo. Menina do céu, me dá um negócio, eu corro de sapo. Até me arrepio”.

 

Apesar de tantos obstáculos no quintal, as crianças ainda insistem em utilizar o espaço para brincar. De pés descalços, o menino de oito anos corre com o menor, de apenas cinco, fazendo lambança na água suja do esgoto, sem sequer imaginar as tantas doenças às quais estão expostos. Dona Ana, quando vê, corre para recolher os netos. Mas quando sai para trabalhar, as crianças tornam a aprontar com a avó. “Um dia, os dedos dos pés dos meus dois netinhos quase caíram de frieira”, contou.   

 

A preocupação da avó é reflexo do amor que sente pelos pequenos. “Vó diz que é mãe duas vezes, né? É por isso que eu me sinto mais feliz”, observou dona Ana. “Eu acho que meu amor é mais dos meus netos do que dos meus filhos, porque eu crio, crio com muito amor os meus netos e sou uma mulher mais feliz”, completou.

 

A felicidade, porém, divide espaço com o misto de agonia e tristeza, quando, de repente, os pequenos pedem por comida. “Às vezes falta comida, eu não gosto de mentir”, admitiu a senhora. No entanto, seu coração puro e sua bondade são perceptíveis. Devota de Nossa Senhora Aparecida, dona Ana acredita que Deus a protege diariamente e que, por isso, fome, com “f” maiúsculo, nem ela nem a família nunca passaram. “Um ovo ou um arroz, tem”, disse.

 

Edson Rodrigues

dona ana

Crianças lancham macarrão que sobrou do almoço do dia

O que parte o coração da avó é quando os netos pequenos pedem lanche, uma bolacha ou um leite, que eles veem com os outros. “Eu explico pra eles que hoje vovó não tem, mas amanhã vovó tem dinheiro e vai comprar”. No dia seguinte, então, dona Ana pega sua bicicleta e sai a procura de latinhas para catar e vender. É com esse dinheiro que, na volta para casa, ela compra um ovo para o almoço, ou, quando sobre comida do dia anterior, se dá o luxo de comprar um pacote de bolacha para que os oito netos possam dividir. “E se eu ganho comida no serviço, quando eu tô limpando casa, eu não como. Não consigo comer bem sabendo que meus netos estão comendo só isso”, relatou a idosa.

 

Apesar do pouco que consegue oferecer aos netos, uma coisa dona Ana garante: a educação. “Eu trabalho pra eles ter educação. Eu falo pra eles que eu quero que eles estudem pra não ser igual eu. Porque, antigamente, mãe e pai não interessavam que você estudava. Eles queriam ver que você prestava para trabalhar. Mas eu não”, explicou.

 

Para dona Ana, além do conhecimento da escola, a educação que se aprende em casa também é primordial. Por isso, ela se orgulha em dizer que cria os netos como criou os filhos, e que nunca “passou susto” com as crianças.

 

Ciente da atual realidade da família, dona Ana ensina as crianças a se contentarem com o que têm, e a não pedir nada para os outros. “Aqui em casa eu crio meus netos como minha avó criou eu. Eu entro na casa de quem for, sei entrar e sei sair. E assim criei meus filhos e tô criando meus netos”, contou. “Se chegar com brinquedo, eu quero saber quem deu. ‘Ah, mas eu achei’. Eu falo ‘então, vamos lá, que eu quero ver onde você achou”.

 

Resistir, dia após dia, só é possível com o apego que tem à Deus, explicou dona Ana. “Às vezes eu acho que Deus me colocou aqui pra sofrer”, disse. “Mas eu sou feliz. É muita coisa acontecendo hoje, a gente tem mesmo que se apegar em Deus”.

 

Um dos maiores medos da vó é que as crianças se desviem do caminho ao qual foram criados para seguir. “As pessoas perguntam: dona Ana, a senhora não tem medo dos seus netos mexerem com as coisas... com droga? Eu falo ‘não tenho’, porque eu converso muito com eles, falo mesmo. Confio na minha educação. E graças à Deus ninguém nunca me deu susto”.

 

Edson Rodrigues

dona ana

 

Mas se engana quem pensa que, diante das batalhas diárias que enfrenta, dona Ana reclama de cuidar dos netos. “Eu cuido dos meus pequenos com muita alegria. São sangue do meu sangue”, disse emocionada. “Sempre na hora que vou deitar eu peço muita força e que Deus olhe meus netos pra mim. Porque vocês me veem assim, mas eu tenho problema de pressão alta. Eu não tenho mais aquela saúde como eu tinha”, lamentou.


“Eu carpia meu quintal, eu agia de todo jeito. Meu barraco fui eu quem fiz. Agora, não. Agora acho que não tenho aquela força de trabalhar assim pra eu limpar meu quintal. Mas pra eu dar o que comer pra meus netos eu tenho força”.

 

 

 

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Gabriel 19/05/2017

Parabéns à equipe pela matéria! Uma denúncia social, abordada com tamanho sentimentalismo, não pode passar despercebida. Porém, é importante que entendamos - não apenas os repórteres, mas sim todos nós - que uma denúncia, desvinculada de atitudes solidárias, não é reconhecimento social. Vamos nos mobilizar para ajudar as inúmeras famílias carentes que existem em Cuiabá e Várzea Grande. Quem se interessar, pode entrar em contato comigo. Gabriel 65999591121

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Carlos Nunes 14/05/2017

Pois é, quando eu vejo uma matéria como essa, eu lembro do Datena falando: Cadê o Direito DOS HUMANOS, ou as Secretarias de Assistência Social (tem municipal, estadual e federal), pra fazer uma visita pra essa senhora batalhadora, e verificar o que ela tá precisando, se tem alguma forma de ajuda-la, e ajuda-la concretamente. Visita a senhora, e pergunta: Bom Dia, Dona Ana, como vai passando, do que precisa? Bem, ela deve precisar de tudo e mais um pouco. A realidade dura, nua e crua, é que pessoas honestas, trabalhadoras, como a Dona Ana, estão abandonadas no país. Deixaram ARREGAÇAR a Economia Brasileira, os 14 milhões de desempregados não apareceram de noite pro dia, foi resultado de uma série de erros nas políticas econômicas do cara e da cara; além de prioridades equivocadas, e uma roubalheira desgraçada debaixo do nariz de todo mundo. Agora, os delatores premiados apontam: mandou destruir provas, sabia de tudo o que acontecia na Petrobrás, trocava e-mail antipatrióticos com marqueteiros pra boicotar a lava jato. Dizem que todos esses delatores mentem...agora o Palocci vai fazer delação premiada também...será que vão dizer que ele também tá mentindo? ARREGAÇARAM a Economia, e agora querem que o povo brasileiro tampe o rombo NA MARRA, sem choro nem vela. Estão dizendo que os vilões do Brasil são os Aposentados, e a Previdência é culpada de tudo. 100 Bilhões pra Previdência vai derrubar o Brasil, e os 500 Bilhões que são pagos anualmente só pelo juro da dívida aos banqueiros. Seria bom cortar o pagamento pros banqueiros pela metade, e pagar a Previdência...afinal de contas esse é o dinheiro do nosso pai, do nosso avô, e até do bisavô. Previdência é mais importante do que os banqueiros, ou não?

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