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Cidades Segunda-feira, 09 de Setembro de 2019, 16:00 - A | A

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Segunda-feira, 09 de Setembro de 2019, 16h:00 - A | A

ENTREVISTA ESPECIAL

“A gente não pode confundir depressão com tristeza”, diz especialista em psiquiatria

KHAYO RIBEIRO

“A gente não pode confundir depressão com tristeza. Tristeza é um estado passageiro, e alegria também”, diz o médico da família e pós-graduado em psiquiatria, Werley Silva Peres em entrevista exclusiva ao HNT/HiperNotícias.

Reprodução

Werley Peres

 Médico da família Werley Silva Peres

No mês de fomento à campanha Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio, a reportagem ouviu o especialista, que apontou as principais características de uma pessoa depressiva assim como quais são os aparelhos públicos disponíveis para a população no tratamento e combate à depressão.

HNT/HiperNotícias: É possível verificar sintomas típicos em pessoas depressivas?

Werley Silva Peres: Falando especificamente sobre a depressão, que é uma das causas do suicídio, há, sim, mudanças de hábito. Quais são? Isolamento social, perda da motivação para fazer atividade física, irritabilidade, muito ganho ou perda de peso. Isso está relacionado a diversos fatores. Por exemplo, alguém que tenha perdido o emprego e não consegue outro, alguém que tenha perdido um ente familiar. Isso não tem a ver apenas com a pessoa ficar triste. Uma coisa que é importante e que impacta muitas pessoas quando entram em um quadro de depressão é a perda do sono, algumas têm muita sonolência e outras perdem o sono. Às vezes, quando essas pessoas dormem, pode acontecer também de o sono não ter qualidade, não descansar. Mas é óbvio que existem outras patologias também, mas essas são muito típicas. A pessoa que antes bebia pouco e começa a beber demais, a pessoa que é tabagista e aumentou muito o consumo de cigarros...

HNT/HiperNotícias: Existe uma relação entre o consumo de drogas e o desenvolvimento de quadros depressivos?

Werley Silva Peres: Na verdade, às vezes, não dá para saber o que vem primeiro, o ovo ou a galinha. Às vezes, a pessoa busca uma droga porque é depressiva. Então, o cara que é depressivo pode usar cocaína como fuga, que deixa ele alegre. Ao passo que o inverso também é verdadeiro, porque a pessoa que usa drogas por muito tempo pode evoluir para um caso depressivo também. Porque, sob a perspectiva neurológica, vai haver uma mudança na produção de neurotransmissores que vão liberar a serotonina, um neuro hormônio que produz a sensação de prazer (endorfina). Produz a mesma sensação de relaxamento e prazer de quando se pratica atividade física ou executa o ato sexual. As drogas atrapalham isso, porque tem ação direta no cérebro, desorganizando a percepção da pessoa e atinge o humor. O que define a pessoa depressiva ou não é a alteração do humor. Normalmente, as pessoas depressivas têm uma alta na produção de cortisol, um hormônio “negativo”, que favorece a diminuição de hormônios como a serotonina.

HNT/HiperNotícias: As pessoas costumam relacionar a depressão com tristeza. Essa correlação existe?

"Um exemplo clássico são humoristas que entram em quadros depressivos. Eles fazem as pessoas rirem o tempo todo, mas podem entrar em quadros depressivos. Ali é um personagem que pode mascarar o problema."

Werley Silva Peres: A gente não pode confundir depressão com tristeza. Tristeza é um estado passageiro, e a alegria também. O depressivo, pode ter um momento alegre. O problema, porém, é a manutenção de pensamentos negativos e a diminuição de produção de serotonina e a perda de prazer em fazer as coisas. Ela deixa de ter interesse, isso é o que caracteriza o quadro depressivo. Um exemplo clássico são humoristas que entram em quadros depressivos. Eles fazem as pessoas rirem o tempo todo, mas podem entrar em quadros depressivos. Ali é um personagem que pode mascarar o problema.

HNT/HiperNotícias: Existem profissões com maior risco de as pessoas desenvolverem quadros depressivos em função da “pressão” inerente ao exercício de suas atividades?

Werley Silva Peres: Toda a profissão que tem um risco iminente de morte ou que expõe a pessoa às situações muito estressantes podem levar a um maior risco de depressão. O agente prisional, depois do minerador, é a profissão mais arriscada que tem. As pessoas lidam com situação de prisão, há um estresse acumulado naquilo, na própria função de policial. O mesmo para profissionais da saúde: médicos, enfermeiros... São seres humanos e têm mais chances de adoecer porque lidam diretamente com o sofrimento alheio. Não há ninguém imune a isso. Maneiras de prevenir esse quadro é praticar atividades físicas, manter hobbies, ter boas amizades e guardar momentos de lazer. A sobrecarga de trabalho é um dos principais problemas.

HNT/HiperNotícias: Como os diversos transtornos de ansiedade podem potencializar o surgimento de quadros depressivos?

Werley Silva Peres: Existe o sintoma misto, que é o de ansiedade com depressão. É muito comum o indivíduo ansioso, que não é tratado, evoluir para um quadro depressivo. Isso se dá porque quando se tem ansiedade se cria expectativas, quando se cria expectativas as vezes você é frustrado, uma vez frustrado você pode criar um quadro de depressão. A própria situação da ansiedade em si já leva a uma angustia, uma sensação ruim que pode levar o indivíduo ao isolamento por medo. Um dos transtornos de ansiedade mais comuns é a síndrome do pânico, que é o medo de ter medo. É aquela pessoa que tem medo de passar mal e, por

"Um dos transtornos de ansiedade mais comuns é a síndrome do pânico, que é o medo de ter medo. É aquela pessoa que tem medo de passar mal e, por conta disso, às vezes, nem sai de casa".

conta disso, às vezes, nem sai de casa. A literatura americana, por exemplo, fala que 50% dos idosos em algum momento podem ter depressão. O fato de convivermos em uma sociedade com alta cobrança de respostas rápidas, e online, gera uma ansiedade nas pessoas. Hoje estão conectados a celulares, vivendo intensamente o virtual. Temos de tentar viver a vida como ela é, os grandes prazeres e bons momentos da vida não estão em gastos exagerados e, sim, em bate-papos com amigos e cafés com a família, por exemplo. As pessoas, hoje, acreditam que o 'querer' está mais intenso que o 'ser'.

HNT/HiperNotícias: Como quadros depressivos, às vezes seguidos de suicídio, se manifestam em crianças e adolescentes?

Werley Silva Peres: Normalmente, o problema não é na criança e, sim, nos pais. As pessoas deixam as relações interpessoais para ter relações virtuais. Isso se estende para os adolescentes também. Muitas mães falam que as crianças têm transtorno de déficit de atenção e o problema, muitas vezes, não está nas crianças e sim nos pais, na família. A criança só reproduz o que vivencia no lar.

HNT/HiperNotícias: Como deve proceder uma pessoa que percebeu alguém com depressão em seu círculo afetivo próximo?

"Eu acredito que não há como descartar hospitais psiquiátricos, porque existem pacientes que precisam ser internados quando não tem suporte familiar, para que eles não fiquem em risco de morte"

Werley Silva Peres: A pessoa tem de estar aberta. Ela só tem que puxar uma cadeira e conversar, perguntar se está acontecendo alguma coisa. Um dos transtornos de ansiedade mais comuns é a síndrome do pânico, que é o medo de ter medo. É aquela pessoa que tem medo de passar mal e, por conta disso nem sai de casa. Idosos no ponto, por exemplo, as vezes estão ali não é nem para pegar ônibus, é para conversar. O idoso é uma faixa etária com muita depressão, porque se sentem incapazes, excluídos, zeros à esquerda. E nossa sociedade ocidental é de descarte ao idoso, quando na verdade eles têm muito a contribuir com sua experiência. Hoje, a expectativa de vida do brasileiro é de 77 anos, assim, de repente, pessoas com 50 anos podem estar no ápice de suas produções intelectuais e afetivas.

HNT/HiperNotícias: Como o senhor avalia os centros de tratamento psíquico, como o Adauto Botelho, por exemplo?

Werley Silva Peres: Sempre fui contra o fechamento do pronto-atendimento, porque não temos aqui em Cuiabá o CAPS  - Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas – que é um centro com internação de sete dias, mas não temos isso aqui. Os pacientes acabam sendo deslocados para outros lugares. Eu acredito que não há como descartar hospitais psiquiátricos, porque existem pacientes que precisam ser internados quando não tem suporte familiar, para que eles não fiquem em risco de morte. São espaços para proteger a vida dos cidadãos. Eu acho que é um aparelho muito bom que valeria a pena reabrir um pronto-atendimento ali.

HNT/HiperNotícias: Quais são os centros de assistência gratuitos disponibilizados em Cuiabá àqueles que sofrem com depressão?

Werley Silva Peres: A porta de entrada é sempre uma Unidade Básica de Saúde (UBS). Se for urgência, pode ir a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ou até mesmo um CAPS.

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