O que começou como uma troca de mensagens entre duas supostas crianças virou o fio que desatou supostos crimes sexuais infantis. A Polícia Civil confirmou 180 possíveis vítimas identificadas e mais de 9 mil imagens relacionadas a exploração sexual infantil, identificados pelo Instituto Geral de Perícias (IGP). O suspeito é Ramiro Gonzaga Barros, de 36 anos. Ele está preso desde janeiro deste ano.
A reportagem da RBS TV entrou em contato com a defesa, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
O caso teria começado com uma criança de nove anos que acreditava estar conversando com uma nova amiga virtual. De acordo com relato dos familiares, elas trocavam mensagens e fotos, até que as brincadeiras deram lugar a ameaças.
"A partir do momento que ela não quis mandar, começou a ser fortemente chantageada. Então, assim, uma pressão psicológica muito grande de que ia espalhar para os colegas do colégio, de que o pai e a mãe iam bater nela, que ela iria ficar de castigo", relata um familiar.
A suspeita é de que Ramiro conversava com a criança, segundo investigação da polícia.
O delegado Valeriano Garcia Neto explica que Barros teria seguido um padrão: criaria laços, ganharia confiança e, então, pediria fotos. Depois, com o material em mãos, aumentaria o grau de exigência. Em alguns casos, acompanharia as vítimas por anos — até que, ao atingirem 12 ou 13 anos, revelaria a identidade e exigiria encontros presenciais.
A perícia afirma que encontrou 6.827 fotos e 2.237 vídeos nos dispositivos do suspeito. Os conteúdos estariam em mais de 750 pastas com conteúdo pornográfico infantil, cada uma com nome, apelido e perfil de rede social das vítimas.
Descoberta dentro de casa
O que a família da menina não imaginava era que o agressor estava mais próximo do que pensavam. Segundo a Polícia, Barros era o responsável pelo aquário da casa.
"É uma pessoa conhecida na cidade, que é uma cidade relativamente pequena, e ele se relacionava com os pais das vítimas. Então era uma pessoa próxima e com vínculo em relação a essas vítimas", comenta o delegado.
A Polícia Civil montou uma força-tarefa para identificar cada vítima. O trabalho exige cruzamento de dados e perícia técnica. Pela sensibilidade dos casos, os depoimentos são conduzidos por policiais mulheres.
"O (caso) mais difícil da minha carreira com certeza, em função dos traumas que as vítimas sofreram ao longo desses anos", diz escrivã Iane Marcela Scherer Colpo. "Após constatar o material no laudo pericial, a gente entra em contato com os familiares e aí acaba dando essa triste notícia", comenta.
Para a família, a possível vítima "é uma heroína".
"É uma coisa que a gente sempre fala, que os psicólogos falam, não tem que ter segredo entre pai e mãe com o filho", comenta o responsável.
Busca ativa do MP
No dia 5 de maio, o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) anunciou a busca ativa para acolher e prestar apoio psicológico às vítimas .
As crianças e adolescentes, assim como seus responsáveis, serão procurados pelo projeto das Centrais de Atendimento às Vítimas e Familiares de Vítimas de Crimes e Atos Infracionais do Ministério Público gaúcho, que oferece espaços de acolhimento e apoio psicológico em Promotorias de Justiça de sete municípios. O atendimento vai acontecer à medida que os expedientes forem encaminhados ao MPRS.
"A busca ativa realizada pelo MPRS, através das Centrais de Atendimento às Vítimas espalhadas pelo Estado, busca garantir que cada uma das crianças e adolescentes, assim como suas famílias, receba o acolhimento necessário. Este trabalho é essencial porque ressignifica o papel das vítimas no processo penal, assegurando que seus direitos sejam plenamente respeitados e que elas possam participar ativamente na busca por justiça”, explica a coordenadora do Centro de Apoio Operacional Criminal e de Acolhimento às Vítimas, Alessandra Moura Bastian da Cunha.
Professor em projetos sociais
Ramiro Gonzaga Barros é morador do município de Taquara. Morava sozinho em uma casa no mesmo terreno da família.
Conforme informações da Polícia Civil era praticante de muay thai e ministrava aulas gratuita de violão, ginástica, desenho e tecido de circo em projetos sociais em Taquara e cidades da região.
Ainda de acordo com a investigação, Ramiro também era dono de uma loja de animais exóticos, principalmente de peixes, no centro da cidade e recebia visitação das escolas.
"Seja nas aulas, no projeto ou na loja, as circunstâncias favoreciam muito o planejamento criminoso dele com as vítimas. Ele tomava conhecimento de detalhes da vida delas", ressalta o delegado.
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