Maria José “Zezé” Motta de Oliveira, a Zezé Motta, nasceu no dia 27 de junho de 1944 em Campos de Goytacazes/RJ. É atriz e cantora brasileira, e indiscutivelmente uma das maiores artistas do país.
Zezé Motta resistiu à época em que os papeis para as atrizes negras só se perfaziam naqueles em que eram declaradamente serviçais das sinhás. Muito nova, no início da carreira, foi reconhecida pelo enorme talento e voz potente. É dela: “Eu vejo a minha trajetória como uma missão”.
A artista veio de lar humilde do interior fluminense, mas se mudou na primeira infância para a Capital. A genitora era costureira, e o pai motorista, cantor e escritor nos dias de folga. Com o trabalho bastante puxado da mãe e do pai, Zezé ficava muito tempo sob os cuidados da tia, no quartinho de empregados e empregadas em um prédio no Leblon, onde o tio era porteiro e zelador do edifício. Nessa época conheceu a amiga Marieta Severo, moradora do citado prédio. Após, dos 6 aos 12 anos, Zezé viveu em um colégio interno. Com a melhora da situação financeira da família, já que a mãe passou a ser proprietária de um ateliê de moda, voltou a morar com a mãe e o pai.
A atriz menciona que o seu grande incentivo para as artes foi o genitor, que a levava para cantar na noite com ele algumas vezes, e a compor canções em conjunto. Aos finais de semana passou a frequentar o Teatro Tablado, sagrando-se atriz. Começou a atuar em 1967, com estreia na peça Roda Viva de Chico Buarque. Como cantora, foi no ano de 1971, se apresentando em casas noturnas de São Paulo. Manifestou certa vez: “Ser é ousar ser”.
Ícone no enfrentamento ao racismo, Zezé conta que sofreu um processo de embranquecimento ao longo da vida, pois queria ser amada e aceita. Segundo ela, já alisou os cabelos, e pensou em se submeter a cirurgia plástica para afinar o nariz. Mas, com o tempo, entendeu sobre as muitas transgressões vivenciadas pelas mulheres negras ao ocuparem espaços e manifestarem opiniões, entendendo que o seu corpo é político, e como tal, possui representatividade imagética. Disse: “Não existe grupo superior. Somos todos únicos”.
A atriz atribui à escritora Lélia Gonzales, expoente na luta pelas pessoas negras, com quem teve aulas, a sua maior compreensão. Afirma que não há tempo para lamúrias, devendo-se atender ao chamado, sendo a hora de arregaçar as mangas e virar o jogo.
Na música por ela composta, e que leva o nome “Muito Prazer Zezé”, relata um pouco das suas vivências: “Muito prazer, eu sou Zezé/ Mas você pode me chamar como quiser/ Eu tenho fama de ser maluquete/ Ninguém me engana nem joga confete/ Muito prazer, eu sou Zezé/ Uma rainha, uma escrava, uma mulher/ Uma mistura de raça e cor/ Uma vida dura mas cheia de sabor/ E pra quem gosta de amor e segredo/ Eu sou um prato cheio/ Eu quero dar uma colher, pois é/ Eu sou Zezé da terra do sol/ Da lua de mel/ Da cor do café/ Oi, eu sou Zezé/ Tem gente que me chama de Xica/ Outros de Zezé/ Mas você me chamar como quiser/ Muito prazer, eu sou Zezé/ Mas você pode me chamar como quiser/ Eu tenho fama de ser maluquete/ Ninguém me engana nem joga confete/ Muito prazer eu sou Zezé/ Uma rainha, uma escrava, uma mulher/ Uma mistura de raça e cor/ Uma vida dura mas cheia de sabor/ É que hoje em dia estou mais atrevida/ Muito mais sabida/ Se não gostar eu dou no pé, pois é/ Eu sou Zezé da terra do sol/ Da lua de mel/ Da cor do café”.
A sua grande característica é o sorriso largo, como quem acredita na vida. Segundo ela: “A autoestima se mantém com as nossas conquistas, principalmente as que a gente adquiriu ao longo do tempo.”
(*) ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual e mestra em Sociologia pela UFMT, do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso – IHGMT -, membra da Academia Mato-Grossense de Direito – AMD - Cadeira nº 29.
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