A ligação feita por Trump para Lula, na manhã desta segunda-feira, não muda em nada o que o presidente norte-americano representa para a democracia no mundo - e muito menos altera o lugar em que está posicionado o presidente brasileiro. Trump continua sendo aquele que flerta com o fascismo, enquanto Lula segue acreditando que outro mundo é possível e militando, com faz há décadas, para construí-lo.
Ainda assim, a iniciativa do bilionário norte-americano em telefonar diz muito sobre a importância de Luiz Inácio no cenário político global. E, claro, revela também o peso do Brasil no mercado mundial - especialmente em sua relação com os Estados Unidos.
Mas talvez o aspecto mais simbólico desses trinta minutos de conversa, em que, segundo o próprio Trump, foi reafirmada a “química” entre os dois, seja o reflexo na política doméstica brasileira. É evidente que os resultados das conversas - que agora terão sequência com Marco Rubio representando o governo norte-americano e com o possível encontro entre Lula e Trump - são imprevisíveis. Já vimos que sensatez e lucidez não são exatamente artigos abundantes quando se fala em governo Trump. Ainda assim, é inegável que o episódio mexe com o tabuleiro político local.
O primeiro efeito, ao que parece, é a aceleração do isolamento de Eduardo Bolsonaro. O “Bananinha” tende a ficar cada vez mais abandonado pelas terras do Pateta. O Centrão, que nunca escondeu o desejo de manter distância do 03, ganhou mais um argumento - e certamente saberá usá-lo.
Quem ganha força com isso? Difícil dizer. Mas cresce, a meu ver, a possibilidade de Tarcísio recusar a missão de enfrentar Lula. Ele pode abrir espaço para que outro nome se nacionalize, mas sua estratégia parece incluir a hipótese de permanecer no cargo de governador. Nesse cenário, Ratinho Junior - o substituto imediato, o “regra 2” - ficaria quatro anos sem mandato, o que dificultaria seu retorno em 2030.
Ainda assim, é possível que Ratinho não tenha alternativa. Pessoas próximas a ele dizem que uma vaga no Senado não o atrai, o que é compreensível para quem está há oito anos no Executivo. É plausível imaginar que ele decida pagar para ver. E, se for, um caminho talvez seja o de uma campanha plebiscitária, em que Caiado e Zema recolham os flaps e disputem o Senado por Goiás e Minas, formando uma frente única da direita para tentar reduzir a vantagem de Lula.
Mas o fato é que, do ponto de vista simbólico, a ligação fortalece Lula e torna a empreitada da direita cada vez mais difícil. Pouco importando quem foi o primeiro a desligar, ou se a ligação terminou com um “one, two, three” tun... tun... tun...
(*) OLIVEIROS MARQUES é sociólogo, publicitário e comunicador político.
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