O Brasil sempre teve centros consolidados de inovação como São Paulo, Campinas, Florianópolis, Porto Alegre e Curitiba. Esses ecossistemas foram fundamentais para estruturar o setor de tecnologia no país. No entanto, nos últimos anos, uma mudança silenciosa e estratégica está em curso. Os investimentos em tecnologia, infraestrutura digital e energias limpas estão migrando com força para o Nordeste. Essa tendência não é por acaso. A região hoje reúne três ativos altamente valorizados por grandes grupos tecnológicos: infraestrutura competitiva, mão de obra qualificada e custos operacionais mais atrativos.
O exemplo mais emblemático desse novo momento vem do Ceará. O Complexo Industrial e Portuário do Pecém está prestes a se consolidar como um dos grandes polos de inovação e sustentabilidade do país, com a instalação de um mega data center fruto da parceria entre a brasileira Casa dos Ventos e a gigante chinesa ByteDance, controladora do TikTok.
Durante anos, o Nordeste foi ignorado nas grandes estratégias nacionais de tecnologia. Hoje, é aqui que as oportunidades se multiplicam, não por caridade, mas por visão de mercado
O projeto, batizado de Data Center Pecém II, acaba de receber autorização da Aneel para se conectar ao Sistema Interligado Nacional, o que marca o início efetivo de sua operação. Trata se de um empreendimento que une três pilares fundamentais do século vinte e um: dados, energia limpa e impacto social. Na primeira fase, o investimento já alcança cerca de cinquenta e cinco bilhões de reais, com projeções que podem chegar a cento e cinquenta bilhões caso todas as etapas de expansão sejam implementadas nos próximos anos. A inovação aqui não é apenas técnica, é também estrutural. A primeira fase do projeto deve gerar quatro mil e duzentos empregos diretos, e a expectativa é de mais de vinte mil postos de trabalho diretos e indiretos ligados às cadeias de energia renovável que sustentam o data center.
A escolha do Ceará para sediar um empreendimento desse porte se dá pela posição geográfica privilegiada, conexão com cabos submarinos internacionais e sinergia com políticas estaduais de incentivo à tecnologia. Fortaleza, que já é um dos maiores pontos de conexão de dados da América Latina, agora se posiciona como centro de processamento e armazenamento de dados em escala global.
Mas o movimento não está isolado. Capitais como Recife, com o consolidado Porto Digital, Salvador, com seus polos criativos e tecnológicos, João Pessoa, com um dos data centers mais modernos do Norte e Nordeste o HostDime, certificado com padrões internacionais e voltado para serviços de alta performance além do projeto Farol Digital e a articulação entre universidades e startups, mostram que a transformação é regional e integrada. Natal, Teresina, Aracaju e Maceió também avançam com parques tecnológicos e parcerias estratégicas em inovação.
O Nordeste não quer mais ser apenas consumidor de tecnologia. Quer criar, liderar e exportar soluções com um diferencial competitivo claro: a integração entre inovação e sustentabilidade. O data center do Pecém será abastecido por fontes renováveis, como energia eólica e solar, reduzindo a pegada de carbono e alinhando se às metas globais de transição energética. É tecnologia limpa, movida a vento e sol, com propósito e vocação local.
Apesar dos avanços, o maior desafio agora está em dois pontos centrais. O primeiro é reter a mão de obra qualificada formada nas universidades da região, que ainda migra para outros estados ou países por falta de oportunidades locais. O segundo é atrair grandes grupos tecnológicos para se instalarem definitivamente no Nordeste, criando sedes, centros de desenvolvimento e operações regionais de alto impacto. Isso exige políticas públicas consistentes, incentivos fiscais bem planejados e uma articulação entre governos, empresas e academia.
Não basta captar grandes investimentos. O verdadeiro jogo está em transformar inovação em permanência. Reter talentos e fixar operações de tecnologia é o passo decisivo para consolidar o Nordeste como eixo definitivo do Brasil digital
A instalação de data centers dessa magnitude também representa um avanço estratégico para a soberania digital brasileira. Hoje, boa parte dos dados que usamos ainda depende de servidores no exterior. Com a expansão da infraestrutura nacional, o país ganha em autonomia, segurança da informação e competitividade global. E o Nordeste está liderando esse movimento.
O que se vê é um novo ciclo de desenvolvimento que conecta o litoral às nuvens, o vento ao algoritmo e o Nordeste ao centro das decisões tecnológicas do mundo. A revolução digital brasileira ganhou um novo sotaque, e ele vem do futuro.
(*) ALEK MARACAJÁ - CEO Ativaweb e professor, Autor do Livro Brasil Digital.
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