Era o ano de 1986, quando assisti ao meu primeiro debate eleitoral. E, se hoje sou profissional de marketing político e já são quase 30 anos nesta jornada, foi porque fiquei absolutamente fascinado quando assisti a este debate na televisão.
Os primeiros debates eleitorais televisionados ao vivo aconteceram nas eleições de governador em 1982, depois do fim da ditadura militar (1964-1980).
Como disse, meu primeiro debate foi no ano de 1986, e mesmo morando em Minas Gerais, assisti ao confronto entre os candidatos a governador de São Paulo. Disputavam aquela eleição cinco candidatos: Antônio Ermírio de Moraes (PTB), Orestes Quércia (PMDB), Teotônio Simões (PH), Paulo Maluf (PDS) e Eduardo Suplicy (PT).
Fiquei apaixonado pelos duelos retóricos. Me lembro como se fosse hoje das brigas entre Maluf e Antônio Ermínio de Morais. Era como se visse a política e a história sendo feitas ao vivo (nem sei dizer se a cores, acho que a TV da minha ainda era em preto e branco).
A partir dali passei a prestar atenção na propaganda eleitoral. Se não estou enganado, em Minas, a disputa para governador era entre Eliseu Resende (PDS) e Tancredo Neves (PMDB), mas ainda vigia a Lei Falcão e as limitações impostas a propaganda eram severas e só podia ser exibida uma foto estática do candidato enquanto um locutor lia o seu currículo.
Em 1989, aconteceu a primeira eleição direta para presidente da República. Em julho daquele ano, a TV Bandeirantes realiza o primeiro debate televisionado ao vivo para presidente. A eleição tinha 22 candidatos. Nove estavam no debate inédito da Band. Participaram do debate Paulo Maluf, Leonel Brizola, Aureliano Chaves, Afonso Camargo, Guilherme Afif Domingos, Ronaldo Caiado, Lula, Mário Covas e Roberto Freire. A Band realizou quatro debates no primeiro turno. Ulisses Guimarães compareceu a partir do segundo encontro. E o líder das pesquisas na época, Fernando Collor, não compareceu a nenhum debate no primeiro turno.
Os debates foram mediados pela apresentadora Marília Gabriela.
Foram para o segundo turno os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Collor (PRN). Quem não se lembra destes confrontos? São históricos.
Assistindo ao horário eleitoral na TV e aos debates ao vivo, precocemente tomei uma decisão que teria impacto na minha vida: era aquilo que queria fazer. Queria trabalhar em campanhas eleitorais, fazer propaganda política.
E vejam como o impacto daquele primeiro debate foi profundo na minha trajetória profissional – desde as primeiras campanhas em que atuei sempre coloquei algum foco nos debates. Me recordo que, já em 1996, na eleição de prefeito da minha cidade, Belo Horizonte, fui incumbido de assistir ao debate entre os candidatos e preparar um paper com as minhas avaliações para nosso candidato, Dr. Célio de Castro. Ele foi eleito e, posteriormente, me tornei seu assessor de marketing na Prefeitura.
Fui me aprofundar e pesquisar mais sobre o assunto. Assisti pequenos trechos do primeiro debate televisionado ao vivo, em 1960, nos Estados Unidos entre Kennedy x Nixon. Ver também mais debates no Brasil como, por exemplo, o da eleição de governador São Paulo, em 1982, e as históricas pelejas entre Montoro e Jânio Quadros.
Depois disso me lembro de dezenas de debates que assisti ou ajudei a preparar candidatos. Quem não se recorda dos confrontos entre Maluf x Covas na eleição de São Paulo em 1998? Mais adiante, em 2002, as disputas para presidente entre Lula e Serra; e em 2006, do debate entre Lula X Alckmin, que muitos analistas avaliaram que a agressividade excessiva do candidato do PSDB o atrapalhou. Em 2014, os debates entre Aécio Neves e Dilma Roussef no segundo turno. E finalmente, os debates nas eleições presidenciais de 2018 e 2022 com muitos momentos memoráveis.
É interessante destacar que, de 1989 a 2022 aconteceram muitas mudanças tanto nas regras, mas sobretudo, nos formatos utilizados para se realizar os debates.
Também gostava de assistir aos debates entre os candidatos a presidente dos Estados Unidos: Bush x Clinton, George W. Bush x Al Gore, John Kerry x Obama, Trump x Hillary, Trump x Biden.
Em 2014, na eleição de governador do estado do Mato Grosso do Sul me recordo que pude perceber uma dimensão essencial para que o candidato tenha uma boa performance nos debates, além de uma preparação adequada da forma e do conteúdo: o preparo psicológico. O nosso candidato Reinaldo Azambuja (PSDB) se manteve calmo e foi bastante frio nos debates. Sendo assim, conseguia executar de forma precisa as estratégicas que construímos para os debates. Me lembro bem das armadilhas que foram preparadas contra o oponente, que praticamente caiu em todas. Não resta dúvidas que, o desempenho do candidato nos debates naquela eleição foi um dos fatores determinantes para a sua vitória.
Algumas eleições de prefeito também tiveram debates quentes e memoráveis. Me lembro bem dos debates entre Alexandre Kalil x João Leite na campanha de Belo Horizonte. E agora então, em 2024, em São Paulo, além da cadeirada desferida por Datena em Pablo Marçal, o nível de agressividade dos debates, os apelidos, os xingamentos, as agressões. Uma eleição que vais ficar para a história dos confrontos televisivos ao vivo.
Em praticamente todas as campanhas que atuei, nas majoritárias com certeza, sempre coordenei a preparação dos candidatos para os debates na TV. Foram centenas de horas dentro de estúdios treinando, exaustivamente, candidatos para as batalhas na TV. E acompanhado candidatos em dezenas e dezenas de debates em rádios, tvs e podcasts. Uma especialização que, naturalmente, foi sendo aprimorada na prática.
Com o passar do tempo, fui percebendo que os debates são eventos fundamentais em uma campanha e, a estratégia focada neles, precisa estar umbilicalmente ligada a estratégia geral da campanha. Entendi que, o consultor de marketing político tem um papel essencial antes (na preparação), durante (intervindo nos intervalos) e depois dos debates (na repercussão e na distribuição dos cortes).
Concluo que, desde o meu primeiro debate, lá em 1986, até hoje continuo apaixonado pelos debates eleitorais na TV. Sei que parece coisa de doído, mas, convenhamos, para conseguir trabalhar a tanto tempo com campanhas eleitorais, pelo menos um pouco doído o sujeito precisa ser. *
(*) RODRIGO MENDES foi responsável pela preparação de diversos líderes para eventos de comunicação como debates, entrevistas, sabatinas, CPIs, etc. Publicitário, sociólogo e cientista político, estrategista de marketing e comunicação pública com 25 anos de experiência, já tendo coordenado 62 campanhas eleitorais e prestado consultoria para diversos governos, instituições e lideranças. Autor dos livros - MARKETING POLÍTICO: O PODER DA ESTRATÉGIA NAS COMPANHAS ELEITORAIS. OS SEGREDOS DA GESTÃO PÚBLICA EFICIENTE. MARKETING ELEITORAL: APRENDENDO COM CAMPANHAS MUNICIPAIS VITORIOSAS e NOVAS ESTRATÉGIAS ELEITORAIS PARA UM NOVO AMBIENTE POLÍTICO.
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