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Artigos Sábado, 03 de Maio de 2025, 07:46 - A | A

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Sábado, 03 de Maio de 2025, 07h:46 - A | A

LUIZ HENRIQUE

A incompetência nos salvou

LUIZ HENRIQUE LIMA

Quase fui assassinado no que seria o maior atentado terrorista da história brasileira.

Alerta: esse artigo não é uma obra de ficção, mas um depoimento de quem viveu a história.

Rio de Janeiro, abril de 1981. Eu tinha 20 anos e estava no último ano da Faculdade de Economia da UFRJ. Amigos me ligam para ir ao show na véspera do feriado de 1º de maio, que seria numa sexta-feira. Grandes nomes da MPB iriam se apresentar, como Gonzaguinha, Alceu Valença, Clara Nunes, Djavan, Ivan Lins, Gal Costa, Fagner, João Bosco, Ney Matogrosso, Paulinho da Viola, Simone e Beth Carvalho. E o melhor: o espetáculo era grátis, em homenagem ao Dia do Trabalhador. O único senão: seria realizado no Riocentro, a uns 30 km de distância de onde eu morava e com perspectiva de muito trânsito. Aceitei o convite na hora. Em anos anteriores já havia assistido shows semelhantes, mas esse prometia superar todos os anteriores e entrar para a história. Entrou.

Um grupo de criminosos terroristas de extrema-direita planejou meticulosamente um atentado destinado a vitimar milhares de pessoas. Uma série de bombas foram programadas para explodir durante a realização do show. Algumas foram instaladas embaixo do palco. Outra seria detonada na casa de força responsável pelo fornecimento de energia elétrica.

Cerca de vinte mil pessoas, a maioria jovens, estava no salão fechado onde ocorria a apresentação. O plano era explodir o palco, cortar a luz, provocar o caos e, finalmente, explodir outras bombas no estacionamento para vitimar os que conseguissem escapar. Isso porque, dos 28 portões de saída, 23 estavam lacrados.

Felizmente, eram incompetentes.

A bomba do estacionamento explodiu no colo de um dos terroristas que morreu ali, além de ferir seu comparsa. Quem eram? Servidores remunerados pelo povo brasileiro. Militares do Exército, que juraram defender a Pátria e não massacrar brasileiros num show musical.
A bomba da casa de máquinas também explodiu, mas não provocou o dano esperado. O espetáculo prosseguiu e a maioria dos presentes somente descobriu o perigo que correu ao ler os jornais nos dias seguintes.

Investigações comprovaram que o sargento e o capitão não agiram de forma isolada e que o atentado do Riocentro estava conectado a outros, como o que atingiu a sede da Ordem dos Advogados do Brasil, e que tinham por objetivo provocar uma crise político-institucional que perpetuasse a ditadura, que àquela altura estrebuchava e apodrecia em praça pública.

A incompetência dos terroristas de extrema-direita nos salvou, a todos os milhares de jovens que saíram de casa para assistir um show. Mas a impunidade não nos salvará. Lamentavelmente, ninguém foi punido pelo atentado fracassado do Riocentro e os criminosos continuaram sendo remunerados pelo Estado.

Quatro décadas depois, outros extremistas de direita planejaram um golpe para derrubar a democracia. Entre outros crimes, colocaram uma bomba acoplada a um caminhão com 60 mil litros de querosene de aviação que deveria explodir junto ao terminal de passageiros do aeroporto de Brasília. Poderiam ter vitimado milhares de pessoas, mas novamente fracassaram. Espero que desta vez os responsáveis – inclusive líderes e financiadores - não saiam impunes.

Sobrevivi para contar e conto para que os jovens de hoje e do futuro possam viver num país democrático.

(*) LUIZ HENRIQUE LIMA é professor e escritor.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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