O Partido dos Trabalhadores (PT) sofreu nesta quarta-feira (17) o esvaziamento de cerca de 300 filiados em Cuiabá, incluindo o presidente do Diretório Municipal, Vilson Aguiar, e membros históricos das Executivas Estadual e Municipal, que homologaram pedido de desfiliação. Militantes da Articulação de Esquerda – uma das correntes da sigla – os dissidentes provocaram grave revés contra a candidatura de Lúdio Cabral a prefeito de Cuiabá sob alegação de que o partido os excluiu do processo eleitoral, anulando também a ex-senadora Serys Slhessarenko, para tornar-se mera “marionete” nas mãos de figuras como Eder Moraes (PR), Carlos Bezerra (PMDB) e José Riva (PSD).

Agora, os dissidentes – cerca de um terço da direção municipal do PT – passam a injetar forças na campanha de Mauro Mendes (PSB), adversário de Lúdio, pedindo votos no segundo turno.

Marcos Lopes/HiperNotícias Jairo Rocha e militantes históricos do PT encabeçaram movimento de dissidência, totalizando cerca de 300 militantes

Além de Vilson (que militou no partido por mais de 30 anos), pediram desfiliação figuras da Executiva Municipal como Marina de Moraes, petista há 28 anos, Jair Santos, Maderson Evilásio (presidente da Juventude petista) e Jairo Rocha, da Executiva Estadual. Até a mãe de Jairo, Noize Pereira Rocha, deixou o partido que defendeu por 17 anos.

Realizado no “Plenarinho” da Câmara Municipal na tarde desta quarta-feira, o ato de desfiliação rendeu um rol de críticas ao PT e à campanha encabeçada por Lúdio Cabral, rendida a apoiadores rechaçados pelos militantes. "Não, não vai dar ter o Eder e o Riva prefeito de Cuiabá", gritaram militantes do partido.

“O PT não será governo, será marionete na Prefeitura de Cuiabá”, profetizou Vilson, criticando a presença de “cânceres da política” na articulação de Lúdio, que teria negado a eles a participação efetiva no processo eleitoral deste ano.

“CÂNCERES DA POLÍTICA”

Segundo Jairo Rocha, em maio o vereador Lúdio propôs lançar-se candidato a prefeito este ano com a expectativa de já deixar articulada também a candidatura do juiz federal Julier Sebastião da Silva a governador em 2014. O projeto inicialmente foi apoiado, mas Lúdio – sob influência de Carlos Abicalil - teria imposto a condição de que a ex-senadora Serys Slhessarenko não participasse, o que bastou para a quase maioria da Articulação de Esquerda em Cuiabá deixar de apoiar a candidatura própria com o nome do vereador.

Marcos Lopes/HiperNotícias Fichas de desfiliação durante ato político nesta quarta-feira (17)

“Não vamos ceder às imposições e não seremos traidores. Aquele que nos propõe trair pessoas não é digno de administrar a cidade”, discursou o agora ex-presidente do Diretório Municipal, Vilson Aguiar, referindo-se a Lúdio.

Jairo lembrou que, a partir do momento em que a candidatura de Lúdio foi praticamente imposta no partido, o vereador mudou seu comportamento, chegando a ficar omisso em relação à política de Saúde do governo de Silval Barbosa (PMDB). A mesma crítica foi feita pelo vereador reeleito Adevair Cabral (PDT), que apoia Mauro Mendes e aproveitou o ato nesta quarta-feira para reforçar o discurso contra Lúdio.

A mesma postura crítica foi demonstrada em relação a Eder Moraes (PR), hoje atual articulador político da campanha de Lúdio; o vereador teria se esquecido de todos os escândalos nos quais o ex-secretário de Estado se envolveu para tê-lo potencializando o poder de fogo da campanha. “É um erro votar em Lúdio”, resumiu Vilson, acompanhado por Jairo: “O PT ganhar em São Paulo com o [Paulo] Maluf é o mesmo que ganhar com Eder em Cuaibá”, criticou, antes de disparar também contra os apoios de Bezerra e Riva, cujo PSD passou esta semana a pedir votos para Lúdio.

APOIO A MAURO

Agora, os militantes dissidentes afirmam que continuarão as lutas pela classe trabalhadora sem as cores do PT, mas em sindicatos, associações, igrejas e quaisquer fóruns de discussão. Embora não se fale ainda em filiação em massa em alguma outra legenda, os dissidentes responderam em coro durante o ato político que transferirão seus apoios a Mauro Mendes na disputa pelo Palácio Alencastro. Jairo até afirmou que ainda hoje procuraria o socialista para participar de algum ato político em seu apoio.

Marcos Lopes/HiperNotícias Ex-presidente do diretório municipal, Vilson Aguiar chora ao falar sobre o partido. "A dor de deixar o PT é enorme para todos nós, mas vamos felizes"

O grupo recém desfiliado também guarda a expectativa de que a ex-senadora Serys, a quem estiveram ligados durante a militância no PT, apoie o movimento e também se desfilie do partido. Segundo Jairo, Serys passou a ser agressivamente excluída de qualquer discussão dentro do PT, de forma que, se continuar na legenda, “ela vai ser executada”, exagerou.

Por sua vez, a ex-senadora, por telefone, limitou-se a declarar que não tem qualquer intenção de deixar a agremiação. De Brasília, preferiu adotar um tom mais diplomático. “Respeito a posição deles. São amigos, militantes de ideologia muito firme e muito clara, muito chegados da gente, mas por enquanto não vou deixar o partido”.

LÚDIO

Questionado sobre como avaliava a dissidência dos militantes, já na tarde desta quarta-feira o candidato Lúdio fez questão de minimizar o ato. “A verdadeira militância do PT está conosco. Tem uma minoria aí que sempre se posicionou assim. Por isso, não nos afeta em nada”, declarou.

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