O Cerrado, bioma que ocupa quase metade de Mato Grosso, perdeu, em média, 27% da vazão mínima dos rios desde a década de 1970, segundo o relatório “Cerrado: O Elo Sagrado das Águas do Brasil”, divulgado nesta segunda-feira (23) pela Ambiental Media. Em Mato Grosso, o impacto é crítico.
O estado concentra parte expressiva das bacias do Araguaia, Tocantins, Taquari e Paraná, que sofrem com a redução da vazão, afetando diretamente a produção agrícola, o abastecimento de água e a geração de energia.
No relatório, a perda do bioma no país equivale a 1.300 m³ por segundo, ou cerca de 30 piscinas olímpicas por minuto, deixando de fluir nos rios. O levantamento usou dados de 51 anos da Agência Nacional de Águas (ANA) e analisou seis grandes bacias hidrográficas: Araguaia, Paraná, Parnaíba, São Francisco, Taquari e Tocantins.
No mesmo período, as chuvas caíram 21% e a evapotranspiração, que mede a quantidade de água perdida para a atmosfera, subiu 8%, indicando que o Cerrado está secando. “O Cerrado é o coração das águas do Brasil. Estamos vendo esse coração infartar, perdendo a capacidade de pulsar, por causa do desmatamento”, alerta Yuri Salmona, coordenador científico do estudo.
Entre 1985 e 2022, as áreas de soja nas bacias analisadas cresceram 1.935% — de 620 mil hectares para mais de 12 milhões de hectares. No mesmo período, a vegetação nativa encolheu 22%.
O estudo aponta que 56% da perda de água nos rios é causada pelo desmatamento, e 43% pelas mudanças climáticas. A retirada da vegetação elimina as raízes profundas que ajudam a infiltrar e armazenar água no solo, comprometendo o ciclo hídrico e reduzindo o volume dos rios.
O impacto é sentido em todo o país. O Pantanal, que depende 100% das águas do Cerrado, já sofre com a redução do fluxo dos rios, especialmente na bacia do Taquari, onde a perda de água para a atmosfera aumentou 12%. Na bacia do Paraná, que abastece a hidrelétrica de Itaipu, a vazão mínima caiu 18% e as chuvas reduziram 21%. No São Francisco, a queda é ainda mais dramática: 50% a menos de água, sendo que 93% da água do rio nasce no Cerrado.
A pesquisadora Mercedes Bustamante, especialista do IPCC, alerta: “A atividade que mais depende da água, a agricultura irrigada, é a que mais contribui para destruir o ciclo hídrico do Cerrado. É um tiro no pé”. Embora o governo tenha retomado o PPCerrado, programa de combate ao desmatamento, os pesquisadores alertam que as ações são insuficientes. “É grave tratar como normal esse ritmo de destruição. Estamos furando a caixa d’água do Brasil”, resume Salmona.
CERRADO
O Cerrado abastece 8 das 12 bacias hidrográficas do Brasil. Ocupa 25% do território nacional. Está presente em 12 estados e no DF e já perdeu mais de 50% da vegetação nativa
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