As manobras marítimas dos Estados Unidos próximas à costa venezuelana deveriam nos preocupar muito mais do que parecem mostrar as páginas e telas da imprensa brasileira. Sob o pretexto de combater o narcotráfico, o imperador Trump ameaça diretamente a nação governada por Nicolás Maduro. Para além da desculpa das drogas, está a velha narrativa norte-americana de que na Venezuela vigora um regime ditatorial.
Concordemos ou não com as medidas adotadas por Maduro, com a condução do processo eleitoral ou com a dura realidade socioeconômica enfrentada pelo povo venezuelano - marcada por uma diáspora dramática , é difícil afirmar que tenhamos elementos objetivos para julgar a situação com precisão. Afinal, enxergamos de fora, e muitas vezes apenas através de um olhar enviesado a partir do Brasil.
Por isso, não temos o direito de simplesmente acreditar na narrativa apresentada pelo governo Trump. Até porque, no caso dele, a mentira é quase uma patologia. O método é sempre o mesmo: repetir falsidades inúmeras vezes, em diversos canais, até que se cristalizem como supostas verdades. E exemplos para desconfiar não nos faltam, vindos do hemisfério norte. Basta lembrar: juravam que havia armas atômicas no Iraque. Invadiram, destruíram uma nação, massacraram seu povo… e não encontraram absolutamente nada.
A estratégia trumpista para a América Latina me parece óbvia: manter a Pátria Grande sob constante ameaça, usando a retórica do combate ao narcotráfico – uma preocupação que convive com a sua absoluta incompetência para controlar suas próprias fronteiras e lidar com milhões de usuários em seu território. Hoje, o alvo é a Venezuela; amanhã, será o Peru, a Bolívia, ou qualquer país que não se subordine à lógica pós-neocolonial de Trump, agora em busca do ouro e da prata da vez: os minerais raros.
É fato que o Brasil já acumula uma lista de contenciosos a resolver com os Estados Unidos, em especial pelo tarifaço criminosamente orquestrado pela família Bolsonaro para tentar livrar o inelegível da prisão. Mas não podemos deixar para depois uma manifestação contundente, articulada com os demais países latino-americanos, condenando essas manobras de guerra. Que não tentem exportar para cá as suas obsessões bélicas - nós já temos problemas suficientes com os nossos próprios conflitos internos.
A loucura reinante na cabeça do presidente bilionário, somada à moral imperialista de seu país e de suas forças armadas, não descarta, sob hipótese alguma, a possibilidade de uma intervenção armada em nosso continente. Para transformar esse território aqui em um novo Iraque ou em uma nova Ucrânia, na cabeça dessa gente, bastam dois palitos.
(*) OLIVEIROS MARQUES é sociólogo, publicitário e comunicador político.
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