Há que se perguntar se Chaplin, que morreu no Natal de 1977, continua vivo no imaginário coletivo como quando criou Carlitos, em 1914. Talvez. Pois o gosto do público mudou muito e, em 2002, quando uma nova distribuidoras lançou, no Natal, a versão digitalizada de O Grande Ditador, os críticos deliraram. Destacando a importância da obra, mas as vendas ficaram além do esperado. Chaplin criou Carlitos integrado à estética do cinema mudo, quando os filmes eram projetados em 16 quadros por segundo. Mais tarde, com o advento do som, a necessidade de adequação com a imagem fez com que os filmes passassem a 24 quadros por segundo, e aí houve uma mudança na estética chapliniana.
Nos filmes mudos, o movimento era acelerado e Chaplin criou seu vagabundo - com bengalas, chapéu-coco e sapatos imensos furados - como um malabarista diante da vida. Quando os movimentos de Carlitos ficaram naturalistas, quem perdeu o rumo foi ele. Chaplin, o cineasta, resistiu ao som. Fez, no sonoro, filmes mudos com música (Luzes da Cidade), com diálogos nonsense (Tempos Modernos).
Quando incorporou a palavra foi para criar o discurso final do barbeiro judeu que, em O Grande Ditador, se fez passar pelo ditador inspirado em Hitler. Um discurso humanista. Nunca mais guerra, respeito por todos, trabalho para todos. Liberdade, igualdade, fraternidade. Chaplin foi considerado comunista e, em pleno macarthismo, exilou-se.
Foi viver na Suíça. Voltou a Hollywood somente em 1972, quando recebeu o Oscar pela trilha de Luzes da Ribalta, que estreara somente naquele ano. Pode ser que para uma nova geração formada no videogame, o cinema de Chaplin pareça ultrapassado. Não é. Carlitos segue sendo um símbolo de resistência. Ainda se pode rir muito com ele, e pensar. E Chaplin, o artista, fez avançar a linguagem do cinema com seus experimentos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Com Agência Estado)
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