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Artigos Sexta-feira, 15 de Fevereiro de 2019, 08:00 - A | A

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Sexta-feira, 15 de Fevereiro de 2019, 08h:00 - A | A

Elza Biancardini: a cozinheira do Papa

Dona Elza preparou almoços e coquetéis na Residência dos Governadores para os Presidentes da República como João Figueiredo, Geisel, Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso...

NEILA BARRETO*

Divulgação

Neila Barreto

 

 

“Das montanhas da Síria e do Líbano eles desceram com seu agudo perfil, sua capacidade de trabalho e de sonho, sua ânsia de viver, suas ásperas coragens. Atravessaram o oceano e desembarcaram no Brasil. No dia seguinte todos eles eram brasileiros (...)”.

Dona Elza não era descendentes de sírios e libaneses, mas sim de italianos. Da mesma forma que os sírios, seus pais Antônio Fortunato e Maria Bonaventura Fortunato, imigrantes italianos oriundos de Cosenza, Calábria, chegaram ao Brasil pelo Porto de Santos nos primeiros anos do século XX. Depois Antônio resolveu vir para Mato Grosso a convite de seus dois irmãos, Vicente e Anunzziato Fortunato, que já estavam instalados em Cuiabá, em busca de trabalho e de sonhos, com ânsia de viver e como escudo, sua dócil coragem.

Em Cuiabá venderam guaraná ralado Maués, muito popular na época. À moda mascate foi para Alto Paraguai trabalhar como comerciante. Fixou residência na Travessa da Justiça, hoje Travessa Desembargador Ferreira Mendes, no belo Campo d'Ourique, em uma casa que se destacava das demais porque se percebia que ali morava uma família estrangeira, com certeza.

Na frente da casa, uma imensa horta onde Dona Maria cultivava alface, tomate, couve-flor, couve, salsinha, cebolinha, repolho, berinjela, pimentão e as vendia, sobretudo, para os fregueses turcos que tinham o hábito de comer verdura. Havia, também, muitas flores e um roseiral com rosas de todas as cores. No quintal, uma imensa parreira de uva verde, muito raro na cidade. Laranja, pitomba, goiaba pera, mamão e carambola completavam o cultivo, um quintal cuiabano de cheiro e sabores. Pássaros não faltava lá.

Aí nesse lugar nasceu Elza Emília Fortunato Biancardini a 03 de outubro de 1928. Mulher simples vinda de uma infância pobre, mas muito feliz. Na companhia dos irmãos Carmelita - a mais velha que faleceu jovem de uma doença cardíaca -, dos gêmeos Fioravante e Leopoldo - já falecido - e o caçula José (Zelito).

 

Arquivo Pessoal

Elza Biancardini

 A autora Neila Barreto com Elza Biancardini nos corredores do antigo Mercado do Peixe, onde funciona o restaurante que fundou: o Regionalíssimo.

Habilidosa, Elza começou a trabalhar aos 10 anos de idade para ajudar no orçamento doméstico e foi uma exímia bordadeira. Fazia à mão e na máquina os Pontos Paris, Cheio, Crivo e Richelieu. Bordou muitos enxovais infantis e de casamento para as principais famílias da sociedade. Bordava também fantasias de carnaval e as vendia na Casa Alberto a convite de seu amigo Alberto Aguiar, que as expunha em sua vitrine. Assim, viveu sua infância e a sua juventude de aprendizado, gentilezas e simpatia, sempre expondo um belo sorriso nos lábios, onde olhos e boca mantinham uma sincronia perfeita.

Em 1951 casou-se com Joseph (Zezinho) Biancardini e desta união nasceram os filhos: Beatriz Helena Biancardini - que foi estudar em São e se casou com o carioca Jaques Scvirer - e Jean Biancardini, casado com Virginia Araújo, pais de Mariângela, Jean Biancardini e Millena.

Após o casamento, Elza começou a praticar o maior de seus dons: a culinária herdada da mãe e de seus ancestrais italianos. Começou fazendo tortas para as amigas, depois para o Clube Dom Bosco, o mais chic da época. Trabalhou para o governo Pedro Pedrossian (1966-1971) e Frederico Campos (1979-1983). Fez a posse de Julio José de Campos em (1983-1986), quando se deslocou para São Paulo para alugar todos os talheres de prata e jogo de louça, aí nascendo o “buffet Elza Biancardini”, junto com seu filho Jean.

Realizou jantares para autoridades como Marco Maciel, Paulo Maluf, Dilermando Monteiro e Aureliano Chaves. Preparou almoços e vários coquetéis na residência dos governadores para os Presidentes da República que visitavam o Estado de Mato Grosso, como João Figueiredo, Geisel, Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso. Preparava os eventos do Tribunal da Justiça, Tribunal de Contas, Rotary Clube, FIEMT, dentre outros. Fez uma peixada em Mimoso para inaugurar uma linha Telegráfica em comemoração ao Marechal Cândido Rondon com presença de Ministro de Estado.

Elza serviu muitos casamentos e aniversários da alta sociedade. Ela se recordava sempre da festa dos 15 anos de Cassira Lúcia Barros, realizada no Country Clube para 3.000 pessoas. Participou da Festa dos Estados em Brasília e dos Festivais Gastronômicos no Hotel Hilton em São Paulo e do Sheraton no Rio, apresentando sempre a comida típica cuiabana.

Mas o que mais a orgulhava era o fato de ter sido a escolhida pela comitiva do Vaticano a fazer a comida para o Papa João Paulo II quando de sua visita oficial à Cuiabá, conforme relatou Beatriz Biancardini Scvirer.

Elza era muito extrovertida e divertida e todos procuravam estar perto dela por sua alegria de viver e para ouvir seus conselhos devido ao alto astral e energia positiva que sua alma irradiava. Adorava o carnaval e fez parte do primeiro grupo de cuiabanas da sociedade que foi ao Rio de Janeiro desfilar na Passarela do Samba: o Sambódromo. Desfilou em 1989 na Estação Primeira da Mangueira. Este grupo era composto por Therezinha Eubank, Maria Adiles, Mercedes e Moacir Costa Silva, Olga Cândia, Terezinha Fava e sempre estava acompanhada da sua filha Beatriz, que já morava no Rio.

Este grupo participava dos bailes de carnaval dos clubes famosos da época como o Scala de Chico Recarey e o Hippotamus, de Ricardo Amaral. Em uma dessas idas ao Rio para desfilar em uma das escolas de samba, Elza teve um problema de saúde e seu buffet passou a ser tocado por seu filho Jean que foi, pouco a pouco, diminuindo o ritmo das encomendas e substituindo-as pelo Restaurante Regionalíssimo. 

Dona Elza representa aquele quinhão de seres humanos em que o egoísmo não encontrou ambiente para desenvolver-se. Cedeu lugar para a paciência e a generosidade. Optou, consciente ou não, a transformar suas habilidades manuais desenvolvidas no bordado no exercício da sua profissão de culinarista. Com as mãos fez uma revolução silenciosa, não deixando de atuar e participar nos espaços públicos, pois opinava, sugeria, e destacava nas atividades sociais e no comércio. As mãos habilidosas logo se acomodaram, fazendo, produzindo, cerimônias, propiciando lazer, bem-estar e saúde às pessoas que a cercavam.

Seus bolos brancos tecidos em brancas rendas. Suas tortas famosas. Sua maionese inigualável, canapés servidos em pratos de louça. Mulher, mulheres. A capacidade de transformar e amoldar os espaços estão constantemente em suas mãos, inclusive, na vida humana em todas as suas dimensões.

Elza adorava ir aos domingos almoçar no Regionalíssimo para encontrar e rever os amigos dos bons tempos que fizeram parte de sua vida profissional e pessoal. O Prefeito Wilson Santos inaugurou o restaurante popular colocando em uma placa à entrada com o nome: Restaurante Elza Fortunato Biancardini. Faleceu aos 88 anos de idade, em Cuiabá, no dia 14 de abril de 2017.

(*) NEILA BARRETO SOUZA BARRETO é jornalista, escritora, historiadora e Mestre em História e escreve às sextas-feiras para HiperNotíciasE-mail: [email protected]

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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Rodrgio Araujo 15/02/2019

Saudades da minha avó de amor!

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