Tornou-se um dos filmes importantes da Retomada, que ressuscitou o cinema brasileiro após o desmanche da era Collor, e vendeu 1.118.000 de ingressos, bela cifra para os anos 1990.
Fábio Barreto morreu por volta das 19h desta quarta-feira, 20, aos 62 anos, no Hospital Samaritano, em Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro.
O projeto de O Quatrilho encontra Fábio já como diretor experiente. Filho mais novo do clã Barreto, Fábio respirava cinema desde a infância. Garoto, herdou a cachorra Baleia, "heroína" animal do clássico Vidas Secas, de Nelson Pereira, adaptado do romance de Graciliano Ramos e fotografado por seu pai, o Barretão. Fábio era filho dos produtores Luiz Carlos Barreto e Lucy, e irmão do também cineasta Bruno Barreto, diretor de Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), durante décadas o filme brasileiro mais visto da história.
Fábio foi assistente de produção do irmão mais velho em Dona Flor e desde jovem frequentou o ambiente do cinema nacional. Dirigiu curtas como A História de João e Maria, Mané Garrincha (1978) e Filmando Bye Bye Brasil (1979), como se preparando para sua estreia no longa, que viria em 1981 com Índia, a Filha do Sol, estreia no cinema da atriz Glória Pires. É um filme que tem qualidades e merece uma revisão. Assim como seus trabalhos posteriores, O Rei do Rio (1984) e Luzia Homem (1987).
Em sua carreira, Fábio deu preferência para a adaptação de autores brasileiros. Índia, a Filha do Sol é tirado de um conto de Bernardo Élis, O Rei do Rio baseia-se no texto O Rei de Ramos, de Dias Gomes, e Luzia Homem inspira-se em romance de Domingos Olímpio. Valeria uma revisão de O Rei do Rio, história de dois amigos e sócios que se tornam poderosos chefões do jogo do bicho no Rio de Janeiro.
Depois desses filmes iniciais, viria o projeto de O Quatrilho, acalentado durante anos e adiado por conta do recesso do cinema nacional durante o breve governo Collor. Com a criação das leis de incentivo, o filme pôde enfim ser começado e já encontrou, em sua direção, um cineasta maduro.
Os trabalhos posteriores - Bela Donna (1998), A Paixão de Jacobina (2000) e Nossa Senhora do Caravaggio (2007) não tiveram o mesmo impacto. Bela Donna, inspirado em Riacho Doce, de José Lins do Rêgo, é um drama amoroso praieiro, mas Jacobina e Caravaggio passam-se no Rio Grande do Sul (o primeiro, sobre a revolta dos Mucker), tentando, sem sucesso, repetir o sucesso estético e de público de O Quatrilho.
Fábio faria ainda um documentário Grupo Corpo - uma Família Brasileira (2006), antes de partir para seu projeto mais polêmico, Lula, o Filho do Brasil (2009).
Baseado na biografia de Denise Paraná, Lula, o Filho do Brasil passou a ser combatido antes mesmo de ser visto. Como tudo que se refere a Luiz Inácio Lula da Silva, também a cinebiografia dividiu opiniões e criou críticos e defensores irredutíveis.
A produção foi atacada por, supostamente, trazer benefícios eleitorais ao político. Porém é apenas uma saga, narrada de forma correta, que mostra a família fugindo da miséria no Nordeste e migrando para o litoral paulista em busca de vida melhor. Conta a história do líder metalúrgico, da infância às lutas sindicais, mas a grande heroína do filme acaba sendo mesmo a mãe, Dona Lindu (Glória Pires, mais uma vez), que conseguiu criar a família depois de ter sido abandonada pelo marido. O filme foi indicado para disputar uma vaga no Oscar, mas não chegou lá.
Fábio andava ocupado com o lançamento comercial de Lula, o Filho do Brasil quando sofreu o acidente automobilístico que o deixou em coma. Sua agonia durou dez anos e terminou nesta quarta-feira.
(Com Agência Estado)
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