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Domingo, 10 de Novembro de 2019, 08h:47

Em debate, abandono do Centro Histórico é motivo de pedidos de socorro

DA REDAÇÃO

Reprodução

casa paulo murtinho centro historico

Postes com emaranhado de fios

Em Cuiabá, 98 imóveis localizados no conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico que formam o Centro Histórico, estão abandonados. Desse montante, 43 já apresentam risco de desabamento e os outros 55 ainda não passaram por vistoria.

Os dados foram repassados ao Ministério Público do Estado de Mato Grosso pela Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Em Audiência Pública realizada na última sexta-feira (08), convocada pelo vereador Lilo Pinheiro (PDT), foi debatida a situação do Centro Histórico de Cuiabá, com a participação de comerciantes, arquitetos, dirigentes de entidades e moradores do local.

Na lista de imóveis abandonados constam prédios localizados na Praça do Rosário, nas avenidas Tenente Coronel Duarte e nas ruas Pedro Celestino, Barão de Melgaço, calçadão Ricardo Franco, Voluntários da Pátria, Sete de Setembro, entre outros endereços.

O objetivo é encontrar solução para um dos mais graves problemas da área: a fiação que infesta os postes, mas já não é mais utilizada pelas empresas, tanto de energia quanto de telefonia, tevês a cabo e outras.

José Augusto Tenuta, um dos principais organizadores do evento, é criador e presidente da Associação Cultural do Mundéo, que atua na preservação e divulgação da cultura cuiabana, a partir de vivências do bairro do Mundéo, que fica nas proximidades da Santa Casa, e é “talvez o terceiro bairro de Cuiabá”, frisou, para depois disparar: falar em turismo histórico em Cuiabá é uma fantasia.

Mudar esse quadro de penúria é o apelo que a comerciante, na oportunidade representando a CDL (Câmara dos Diretores Lojistas), Maria Cândido Silva Camargo deixou registrado da Tribuna.

Parte do corpo diretor da CDL, a lojista observou que discussões sobre o centro são antigas e já “estão desgastadas”. Para ela “as coisas andam quando há vontade política” e sugeriu a criação de uma sub-prefeitura, “para que exista uma gestão continuada, porque como estamos hoje, cada prefeito significa um recomeço”, para em seguida disparar: até quando Cuiabá vai ter um Centro Histórico horroroso?

Outra questão levantada foi com relação à segurança. Representando o Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e também a Academia Mato-grossense de Letras, instituições que ocupam o mesmo prédio, a Casa Barão de Melgaço, a Professora de Geografia Sônia Regina Romancine disse que os acadêmicos já registraram mais de 15 furtos nos últimos anos.

Alan Cosme/HiperNoticias

Casarão/centro histórico

Como professora, costuma levar alunos para aulas de campo no Centro Histórico “pois é uma referência memorial da cidade” e para despertar as pessoas, porque elas têm direito à cidade, freqüentando seus espaços, andar por ela.

Professora da UFMT, a arquiteta urbanista Doriane Azevedo, também relatou sobre suas aulas práticas no centro. Ela disse que todo semestre leva uma turma ao local e com tristeza constata que muitos alunos não conhecem o Centro Histórico.

Mas o Centro Histórico tombado pelo poder público nos anos 90, ela ressalta, “é um conjunto paisagístico”, isto significa que a Coroa Portuguesa adotava regras para as construções das cidades, “era uma idéia de conjunto”, assim, o Centro Histórico de Cuiabá constitui “uma paisagem cultural de três séculos”, importante detalhe que não estamos conseguindo compreender.

Entre tantas outras atividades, o Arquiteto Urbanista, Professor e Servidor Público aposentado, e articulista da imprensa José Antônio Lemos, afirmou temer que as autoridades estejam aguardando um acontecimento trágico para tomar as providências devidas. “Além da questão estética urbana, o Centro Histórico é questão de segurança pública”, alertou.

O Centro Histórico

Os estudos para o tombamento começaram na década de 1980, tendo sido ele aprovado em 1988 pelo conselho consultivo do IPHAN. Por motivos políticos. O tombamento só foi efetivado em 1993, com a inscrição da área nos livros histórico, de belas artes e arqueológico, etnográfico e paisagístico. 

A área tombada do centro histórico possui 13 hectares, onde estão cerca de 400 imóveis. Há ainda a área de entorno, com mais 600 imóveis e 49,7 hectares. Conforme registra o IPHAN, instituto que cuida da preservação dos bens tombados no país.