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Sexta-feira, 18 de Janeiro de 2019, 10h:20

Ana Maria do Couto “May”

A inteligência, a espontaneidade a comunicação fácil e a determinação desta 'Maria' são características que marcaram para sempre a memória de quem a conheceu

NEILA BARRETO*

Divulgação

Neila Barreto

 

 

Nascida Ana Maria do Couto em 13 de setembro de 1925. Mulher marcante, de pele morena, olhos castanhos, cabelo preto e bem tratado, capaz de silenciar a conversa mais animada apenas com sua presença. Esta era Ana Maria do Couto May, de beleza e medidas impressionantes, bem distribuídas em 1,67 de altura. O corpo escultural estava sempre acompanhado de um sorriso aberto e verdadeiro.

A inteligência, a espontaneidade a comunicação fácil e a determinação desta 'Maria' são características que marcaram para sempre a memória de quem a conheceu, segundo memórias dos cuiabanos.

Segundo memórias do radialista Eugênio de Carvalho, todos aqueles que tiveram o privilégio de ver May não esquecem um só detalhe. "Ao lado de Ana Pinheiro e Maria Nazareth Hans, May sacudiu Cuiabá". A crítica masculina chegava a compará-la a uma estrela do cinema. Vestia roupas modernas e ousadas da época, substituía as blusas comuns por camisas femininas bem cortadas e usava bons perfumes. O comportamento mostrava uma mulher com visão de futuro, de outros tempos que viriam para confirmar a liberdade feminina e as conquistas sociais das mulheres, segundo testemunhos públicos.

Pioneira na presidência de um time de futebol. O esporte a colocou na presidência do clube de futebol Dom Bosco, a primeira mulher a ocupar o cargo no Brasil. Com uma mulher no comando, o Dom Bosco se transformou em um dos maiores times do estado. Fora do campo a personalidade dela era notada na administração do clube. Durante o período que esteve na presidência, entre 1969 e 1971, as principais festas de Cuiabá foram realizadas no clube Dom Bosco. Mas as marcas registradas foram a ousadia, determinação e visão de mundo.

Nos anos 40 quando as mulheres sequer ousavam mostrar os joelhos, May comandava as aulas usando uma bermuda bem curta. Um escândalo para aqueles tempos, mas ela conseguia se impor de tal maneira que ninguém ousava tecer qualquer comentário. Sua firmeza e imponência eliminavam qualquer reação, tanto dos estudantes quanto dos superiores. "Ela era única e conquistou isso com inteligência e firmeza de conduta".

O gosto pelo esporte foi determinante na escolha da primeira faculdade. Em 1944 formou-se em Educação Física, na cidade do Rio de Janeiro. A partir de 1945 assumiu a vaga de professora da disciplina no Colégio Estadual de Mato Grosso, hoje Liceu Cuiabano “Maria de Arruda Muller”. Entre 1946 e 1948, vários estudantes caminhavam de Várzea Grande a Cuiabá para estudar no colégio onde ela dava aulas. A dedicação da professora despertou a preferência dos estudantes. As aulas de educação física eram diferentes e especiais no Liceu Cuiabano. Suas conquistas mostravam que as mulheres ganhariam espaço e reconhecimento nas próximas décadas. Era um presságio das transformações que a sociedade vivenciaria a partir dos anos 70.

Dedicou-se também à História e adquiriu profundo conhecimento nesse campo. Em 1951 diplomou-se no curso de Extensão Universitária em História, no Rio de Janeiro (RJ). No mesmo ano, ela conquistou mais um diploma, desta vez em Contabilidade, depois de formar na Escola Técnica de Comércio de Cuiabá.

A partir de 1952, se dedicou à comunicação. Foi a primeira locutora noticiarista de Mato Grosso. Na Rádio Voz D'Oeste, ao lado do ex-deputado Augusto Mário Vieira, comandava o programa “Bandeirantes no Ar”. Além de apresentar o programa, ela também era responsável pelos comentários políticos. O programa marcou época no rádio. Este envolvimento aguçou o gosto pela política. A popularidade levou-a a Câmara Municipal da capital em 1965. Além de vereadora pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), May também foi presidente da Câmara, a primeira mulher a ocupar o cargo no Estado.

Advogada, prestou concurso para a Promotoria da Auditoria da Polícia Militar de Mato Grosso. A entidade, até então exclusivamente masculina, passou a contar também com uma mulher. A partir de 1966, Ana Maria do Couto foi nomeada promotora de Justiça Militar de Mato Grosso. Neste período também exerceu o cargo de assistente da Legião Brasileira de Assistência. A partir de 1969 ela se licenciou de cargos públicos. Surgiram os primeiros sinais da doença, o câncer. Mas a lembrança dos tempos do rádio trouxe novo ânimo quando Ana Maria viu a chegada da televisão em Cuiabá, em 1969. Vários profissionais da comunicação descobriram a magia da TV, inclusive "May", que se tornou colaboradora do programa Galeria de Vultos Ilustres.

Jornalista, o seu registro se efetivou em 1970. No dia 17 de outubro de 1971 o corpo não aguentou e May faleceu vítima de câncer. Seu nome hoje está emprestado a vários edifícios públicos, praças e escolas em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Em Cuiabá, por exemplo, a segurança pública deu o seu nome ao presídio feminino. A cidade de Barra do Bugres (MT) a homenageou dando o nome de May ao prédio da Promotoria de Justiça, em Campo Grande (MS), um conjunto habitacional rende homenagens a Ana Maria do Couto e a Câmara Municipal de Cuiabá concede a pessoas ilustres o título ‘Mulher Cidadã Ana Maria do Couto’, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher.

(*) NEILA BARRETO é jornalista, escritora e Mestre em História e escreve às sextas-feiras para HiperNotíciasE-mail: [email protected]