Botelho nega truculência da PF e diz que Operação era aguardada por deputados

O presidente da Assembleia Legislativa (AL), deputado Eduardo Botelho (PSB), afirmou que  o cumprimento de mandados de busca e apreensão pela Polícia Federal, em oito gabinetes da Assembleia, nessa quinta-feira (14) causou "constrangimento e dissabor". No entanto, a Operação Malebolge já era aguardada pelos parlamentares. Segundo Botelho, seria ingenuidade dos parlamentares pensarem que não teria nada, pois a Polícia Federal e o Ministério Público Federal precisaria dar esclarecimentos para a sociedade. 

 

Em entrevista ao jornalista Paulo Coelho, da Rádio Capital FM, o presidente afirmou que seus colegas ficaram "envergonhados", mas "eu disse que é melhor que fiquem com vergonha, pior seria se não tivessem". Ele ainda fez um apelo aos parlamentares para que compareçam na Casa, para discutir projetos importantes como a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do Teto de Gastos. O presidente também está distribuindo tarefas aos deputados para incetiva-los a trabalhar. 

 

 

 

 

Paulo Coelho: A primeira pergunta, o senhor viu como natural, normal ou houve algum dissabor nessa diligência de busca e apreensão dos policiais federais na Assembleia no dia de ontem? 

 

 

Eduardo Botelho: Dizer para você que  foi natural, lógico que não. Que não causou dissabor, lógico que causou. Causou constrangimento, causou sim. Agora, todo mundo estava esperando. Não adianta, no meio de tudo isso, achar que não ia ter nenhuma operação, não iria ter nada. Eu acho que quem pensou isso, pensou errado. Isso já era aguardado, os deputados sabiam que ia ter operação, que a Polícia Federal, que o Ministério Público precisava dar uma resposta para a sociedade, aí veio essa operação. Agora, é constrangedor. Alguns deputados ficaram com vergonha, disse isso ontem. Eu disse que é melhor que fiquem com vergonha, pior é se não tivessem vergonha, falar 'tá tudo bem, beleza'. Nós não podemos, mais uma vez, e eu faço apelo aos deputados que nós temos que trabalhar. A contrapartida é trabalhar, assim eu espero. Nessa semana eles vieram em massa, eu espero que semana que vem eles continuem vindo. Nós precisamos dos deputados na Assembleia. 

 

 

 

 

EB: Não houve truculência nenhuma. Eles procuraram a Polícia Militar, que está a disposição, pediram para ligar para o procurador, o procurador foi lá, acompanhou toda a operação. Foram educadíssimos, foram mais educados do que o de costume. Então, não houve. Por parte de todos os deputados que eu conversei, falaram que eles foram muito educados e respeitosos com todos os funcionários, com os deputados que eles foram nas casas. Não houve nenhuma falta de respeito. 

 

 

PC: Eu pergunto, porque estava andando pelos corredores vazios da Assembleia, mas quando encontrava com um ou outro, diziam assim: Lá no gabinete de fulano, usaram até estilete para rasgar os estofados para verem se tinham ali dentro dinheiro ou documentos. Então isso não existiu? 

 

EB: Não, não, não. Não ocorreu isso em nenhum local. Ninguém relatou isso para mim, não houve nada disso. Houve uma busca sensata, uma busca dirigida, pegando documentos, levando. Mas o que é de praxe. Nenhuma truculência, nada fora do normal. 

 

 

PC: O ministro Luiz Fux determinou a abertura de inquérito contra o senhor, outros políticos também, como Emanuel Pinheiro, Ezequiel Fonseca... O que motivou essa abertura de inquérito contra o senhor? Tem ligação direta com a delação do Silva? 

 

 

EB: Esse inquérito que ele abriu não tem nada haver com delação do Silval e é bom que se diga. Ele fez uma abertura de inquérito sobre suplemento de fundo, que houve uma denúncia de que um assessor meu pegou uma nota que é fria, que o cara delatou. Eu não conheço, nunca vi, pode colocar na minha frente essa pessoa que delatou, eu não o conheço, eu nunca vi, nunca estive com ele e que disse que teve isso. Nós vamos nos defender no momento certo. Quero dizer o seguinte: A Assembleia Legislativa, as pessoas que não prestaram contas na época, e eu fui um dos que não prestou conta, devolveu esse dinheiro. Eu tenho um documento que eu fiz a devolução, corrigi isso na época que eu fui cobrado pelo financeiro da Assembleia, em 2015. Eu pedi para corrigir porque eu não tinha feito a prestação de contas. Então, não procede. Nós vamos provar isso no momento certo. Mas não tem nada haver com delação de Silval. Ele fez uma acusação contra mim, contra Zeca Viana (PDT), contra Wancley Carvalho e eu falo por mim. Eu tenho como provar isso e eu vou provar no momento oportuno. Nada haver com delação de Silval Barbosa. 

 

 

PC: Deputado Botelho, agora que seus colegas que foram flagrados, citados delação do Silval, estavam voltando ao trabalho, inclusive nessa semana tivemos plenário cheio.  O senhor disse que eles tinham ficado deprimidos e que a depressão havia passado, mas agora, depois dessa devassa da Polícia Federal nos gabinetes de alguns deles, não pode haver uma recaída e eles voltarem a ficar deprimido e voltarem a faltar nas sessões ordinárias? 

 

 

EB: Eu estou ligando para todos os deputados, convidando eles, chamando eles para trabalhar. Dando trabalho para eles, dando obrigações: Eu quero que você faça isso para mim, eu quero que vocês estudem isso aqui. Para cada um eu estou passando uma tarefa que... Nós temos que continuar. A vida continua e o Congresso Nacional está funcionando, apesar de ter mais de duzentos deputados [respondendo processos] e eles continuam trabalhando, então nós temos que continuar aqui também. O Estado precisa do parlamento, o parlamento não pode parar agora e ficar aí, emperrar as leis, enterrar PEC do Teto, enterrar os projetos que veem por aí, não podemos parar, nós temos que continuar. 

 

 

PC: Mas à rigor, ontem quinta-feira, era dia de sessão ordinária e não teve.

 

 

EB: Como que eu iria fazer sessão, com oito gabinetes, com carros lá na porta? Não tinha clima, você tem que entender isso também. Agora, na terça-feira eu conto com os deputados lá na sessão e segunda-feira para começar as discussões nas comissões. Enfim, semana que vem eu conto com todos os deputados lá. 

 

 

PC: Esse foi o presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, a quem eu agradeço pela entrevista, falando aqui que houve apenas um trabalho da Polícia Federal e os trabalhos precisam continuar. Obrigado e bom dia. 

 

EB: Obrigado. Nós temos que dizer que realmente é chato. Mas dizer de tudo que aconteceu, se eu falasse assim: Ninguém estava esperando que não iria acontecer nada, pelo amor de Deus, tem de acontecer sim. Tem que ter as investigações, separar o joio do trigo, tem que ver quem realmente deve e quem não deve. Qual que é a proporção que cada um deve, tem uns que devem um tantinho outros que devem um tantão, e assim por diante. 

 

 

 

EB: Não. Eu acho que devo sim, também. Eu vou responder no momento certo. Como empresário eu tive minhas participações, evidentemente eu devo as explicações e vou dar no momento certo.