“Minha vida mudou totalmente. Não saio de casa. Apenas trabalho, mas ainda com algumas restrições médicas”. Esse foi o depoimento emocionado do vereador por Cuiabá, Júlio da Power (PT do B), que levou dois tiros durante uma tentativa de assalto no bairro Sol Nascente em uma caminhada da campanha eleitoral no dia 28 de setembro de 2016.
Alan Cosme/HiperNoticias
Julio relembra momentos marcantes no dia da morte do pai
No dia do crime, o pai do então candidato, Custódio Alves Pereira de 58 anos, intercedeu pelo filho quando percebeu o assalto a mão armada. O suspeito, Edicarlos de Farias Silveira, atirou em Custódio e posteriormente em Julio da Power. Ambos foram trazidos às pressas ao Hospital São Mateus, porém Custódio não resistiu aos ferimentos e morreu.
No depoimento ao juiz Lídio Modesto da Silva Filho, o vereador contou que no dia do crime participava com sua equipe de um ato político na praça do bairro. Segundo Power, ele foi convidado para participar da passeata pelo vice prefeito de Cuiabá Niuan Ribeiro (PTB) e o filho do prefeito, Emanuel Pinheiro Filho.
A programação teria começado por volta das 15h. Antes de ir para o Sol Nascente, toda a equipe do candidato em parceria com a do prefeito Emanuel Pinheiro (PMDB) e de outros políticos andaram pelos bairros ao redor até chegar a praça às 17h.
“Meu carro era o único que tinha som. Então o prefeito pediu que a gente estacionasse próximo da escada onde estava o palanque para fazer as considerações finais. Nisso, meu irmão o Fábio Júnior Maia Pereira chegou e falou que uma pessoa queria conversar comigo para saber das propostas. Este homem disse que ele tinha uma candidata, mas que ela não estava correspondendo com as expectativas. Nisso, fui no carro pegar os santinhos e quando voltei outro cara estava na minha frente parado com a arma na mão e disse que era um assalto”, contou ao juiz.
No depoimento, Júlio lembrou que o homem de estatura média, cor parda e olhos verdes teria pedido o relógio, a pulseira e o anel de ouro que ele usava no dia da passeata. Sem demonstrar nenhuma reação, o vereador contou que ergueu as duas mãos para cima e disse que entregaria todos os pertences caso ele autorizasse para se mexer.
Nesse momento, o pai do parlamentar que estava atrás dele percebeu a situação e empurrou o suspeito Edicarlos de Farias Silveira que acabou se assustando e disparou a arma duas vezes em direção de Custódio.
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Julio mostra bolsa de colostomia
Ao ver o pai no chão, sangrando, e com a arma ainda em direção para sua cabeça, Julio disse que implorou ao suspeito “pelo amor de Deus” para que ele não matasse o seu pai.
“Falei, por favor, não mata meu pai. Dou tudo que quiser. Mas, ele olhou para mim e disparou a arma. E ainda não contente saiu descarregando a arma que ainda baleou uma criança”.
No momento da tentativa de assalto, Julio contou que o suspeito estava em uma motocicleta de cor escura, porém, ele não usava capacete quando o abordou.
No dia 28, Julio também confirmou ao juiz que algumas pessoas comentaram que a situação era acerto de contas e que a ação poderia ser por conta de alguma rixa.
“Temos certeza que foi um assalto. O relógio sumiu. Mas, não posso afirmar que foi o Edicarlos que levou. Meu pai era um cara feliz e maravilhoso. Sempre trabalhador e morreu lutando por uma cidade melhor”, chorou soluçando na sala do juiz que acabou acalmando o parlamentar com palavras de apoio e um copo de água.
No depoimento, o vereador afirmou que os tiros acertaram o seu intestino grosso, nervo da perna e o pulmão. “Fiquei nove dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e mais 15 dias dentro do Hospital São Matheus. Se não tivesse me socorrido e eu tivesse esperado o socorro do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) teria morrido no local junto com meu pai, com alguma infecção generalizada”.
Depois que saiu da audiência, Julio contou em entrevista ao HiperNotícias que sua vida mudou totalmente. Ele teve que sair da casa dele para ir morar com a mãe que ficou bastante prejudicada com a morte do pai.
“Ela perdeu 25 quilos. E a única força dela para querer viver ainda sou eu. Só que não saio mais de casa. Minha rotina é de casa para a Câmara e ainda assim às vezes tenho que sair corrido porque ainda uso uma bolsa de colostomia para fazer as necessidades."
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Julio e o imão Fábio em visita ao HiperNotícias
Julio afirmou que “a imagem jamais sairá da cabeça”, já que foi ele quem presenciou todo o crime ao lado do pai.
"Ele morreu me salvando. Empurrou e pulou na frente do cara para ele não me matar”.
Na audiência, Julio também confirmou ao juiz que depois que saiu do hospital recebeu ameaças de uma pessoa no Facebook "Se acontecesse alguma coisa com o Edicarlos dentro do presídio, a minha família dele pagaria por isso".
“Prestei a queixa na delegacia. Só que me falaram que esse tipo de coisa era normal. Fiquei abismado. Mas, o que mais me importa é que estamos tentando reconstruir nossa vida. Os médicos me deram dois anos para voltar a andar, mas pela graça de Deus em quatro meses estou voltando a rotina”, finalizou.
Júlio Power teve 1.506 votos, ficou como suplente e tomou posse do cargo na Câmara no início do mês de maio.
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