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Quarta-feira, 06 de Junho de 2018, 16h:50

"Montaram um campo de concentração e estão matando pessoas ali", diz Dejamir sobre PS

MICHELY FIGUEIREDO

"A sala vermelha do Pronto Socorro virou um campo de concentração. Estão matando a cuiabanada e os mato-grossenses ali. Não é por falta de vontade dos profissionais. Tem gente morrendo por falta de insumo básico, respiradores, remédios para controle da pressão arterial", disse o presidente do Sindicato dos Profissionais da Enfermagem de Mato Grosso (Sinpen - MT), Dejamir Soares, sobre a situação caótica vivida na saúde pública de Cuiabá. Conforme o sindicalista, o cenário se agrava por falta de gestão no setor.

 

Mayke Toscano/Hipernotícias

Dejamir Soares

 Dejamir Soares

Dejamir conta que, na sala vermelha do Pronto Socorro, pacientes baleados, infartados, que sofreram AVC estão todos misturados. São 50 pacientes instalados no setor, mas apenas seis técnicos de enfermagem e oito respiradores para atender a toda a demanda. "Continuamos reanimando pacientes no chão, dando banho no chão, tratando os pacientes como cachorros. Esperamos uma Cuiabá dos 300 anos que tenha dignidade na saúde pública. Que quem esteja morrendo, pelo menos morra com dignidade", asseverou.


"O Pronto Socorro está superlotado, não tem insumos para trabalhar, sequer tem luvas. Desde o tempo da secretária Elizeth fala-se de fazer um grande pregão de R$ 120 milhões. Vamos fazer essa super compra, só que essa super compra nunca chega. E as compras pequenas não acomodam a necessidade dos trabalhadores e nem da população. Comprinhas pequenas, dinheiro vai se esvaindo. Se não tiver controle, planejamento, se coloca R$ 10 milhões e não resolve. Gasta-se muito e gasta-se mal", reforçou Soares, lembrando que as compras pequenas acabam por esvaziar os cofres da saúde, porque os produtos saem pelo triplo do valor, e não resolvem o problema.


O sindicalista pondera que além da falta de insumos básicos e equipamentos, o Pronto Socorro também sofre com a falta de profissionais. Hoje existe um déficit de 60 profissionais de enfermagem na unidade de saúde e a prefeitura não consegue resolver o impasse. Também faltam 20 profissionais na Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Como a prefeitura não fez seletivo e também não contratou profissionais para suprir o déficit, os enfermeiros e técnicos começaram a fazer plantões extras para que a população não ficasse sem atendimento.


No entanto, nem os plantões extras estão sendo pagos pela prefeitura. "Quem é do Pronto Socorro e fez extra está desde dezembro sem receber. Quem é de outras unidades e fez plantão extra está desde agosto sem receber. As pessoas não querem mais trabalhar porque não recebem", disse.


E a falta de medicamentos se estende também para as unidades básicas de Saúde, os Postos de Saúde da Família (PSF). Segundo Soares, falta por exemplo Dipirona, AS, metronidazol. "Não tem, as prateleiras estão vazias. O Alexandre Guedes [promotor] fez um tour pela cidade, visitou as unidades básicas de saúde e ele assina embaixo sobre tudo o que eu disse. Não tem material, não tem insumo, é ilógico. No Pronto Socorro estão comprando luvas estéreis que custam 10 vezes mais caro. Falta gestão na saúde pública".


Dejamir Soares lembrou que a queda da secretária Elizeth Araújo da pasta da saúde se deu justamente pela falta de condição no setor. "Existia um orçamento lá previsto e licitação nunca ocorria. Na tal da crise de emergência resolveram adotar um pregão de R$ 120 milhões. Foi anunciado em setembro do ano passado e até hoje não licitou nada. Não tem  compra nenhuma prevista. Existe uma conversa de que semana que vem vai chegar. Essa conversa existe desde início do ano. Daí compra picado dentro da unidade, o preço sai triplicado".


Segundo o líder sindical, o descontentamento na saúde pública de Cuiabá ocorre de "ponta a ponta".

 

Em razão da situação precária da saúde pública, os profissionais da enfermagem não descartam iniciar uma paralisação a partir da próxima semana.