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Cuiabanália Sexta-feira, 07 de Dezembro de 2018, 16:50 - A | A

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Sexta-feira, 07 de Dezembro de 2018, 16h:50 - A | A

20 ANOS

Editora lança box de prosa e poesia com 10 obras de autores de MT

KHAYO RIBEIRO

A editora Carlini Caniato, em associação com escritores, lançará uma coleção de livros de autores mato-grossenses. O projeto, assinado por 11 escritores, conta com dez obras organizadas em prosa e poesia. O lançamento do box será realizado na próxima segunda-feira (10), a partir das 19:30h, na Casa Dom Aquino, em Cuiabá. 

O lançamento da coleção marca o aniversário de 20 anos da empresa, que desde 1998 vem impulsionando escritores do estado no mercado das produções literárias. Ao HiperNotícias, Carlini revelou que o box é apenas o pontapé de um projeto maior. O editor afirmou que, além de todos livros, poderão ser comprados individualmente a partir de fevereiro do próximo ano a coleção serão acrescidas novas obras.

Divulgação

Escritores reunidos Carlini e Caniato

 

Conforme Ramon Carlini, um dos sócios da editora, o evento é uma ação de fortalecimento das produções independentes de autores de Mato Grosso. Todavia, esse processo de emancipação não se realiza sem parcerias: “Eduardo Mahon é um grande parceiro no projeto. Esse tipo de iniciativa não acontece sem incentivo financeiro, que é um obstáculo que temos enfrentado. O Estado, por exemplo, nunca ofereceu apoio algum à editora para a realização de ações como essa”.

A introdução das obras ficou sob o olhar da membra da Academia Mato-grossense de Letras Olga Maria Castrillon Mendes. 

“Estamos diante de um fenômeno editorial em Mato Grosso. Trata-se de duas Coleções de textos de escritores contemporâneos. A Coleção Olho d’água traz os poetas Ronaldo de Castro, Silva Freire, Santiago Villela Marques, Marília Beatriz Figueiredo Leite, Lucinda Persona e Matheus Guménin Barreto. A prosa aparece na Coleção Carandá, contemplando os escritores Eduardo Mahon, Lorenzo Falcão e Fátima Sonoda; Icléia Lima e Gomes e Aclyse de Matos”, conta Olga.

Confira a seguir o perfil dos escritores e uma breve introdução às obras:

POR IMENSO GOSTO, de Lucinda Persona

“O que faz um primeiro livro, de 1995, retornar assim tão iluminado nesta Coleção? 'Sensibilidade, inteligência, sutileza e poder com as palavras', como assevera a prefaciadora da primeira edição Olga Savary? Isso e muito mais. Por imenso gosto ressurge para nos manter presos ao encantamento que só a palavra em grau de poesia é capaz de assegurar, despertando sentimentos que consagram e acentuam sua perenidade. O gosto da poesia de Lucinda está no tempero com que trabalha a textura e o sabor. Cheiro, cor, movimento e consistência estão na medida exata do produto final esperado. O prazer advém da relação entre a materialidade e a palavra em infusão à espera de ser sorvida. O mundo poetado por Lucinda Persona traz aqui as intimidades geografadas e a alquimia da palavra, celebrando a vida diante da finitude da matéria. Cabe ao leitor aceitar os desafios.”

"Neste bem-amado momento, em que proclamo em reedição o por imenso gosto da matéria cotidiana e concreta da vida, reporto também meu diálogo mais vivo e aflito... Não sei se és tu que vens a mim, ó poesia, ou eu que arrebatada vou a ti. Ambas, em circunstâncias tão íntimas, e no desejo irreprimível de atingir o âmago delicado e pouco conhecido, tanto das coisas do mundo, quanto de nós mesmas". Lucinda Persona.

Lucinda nogueira Persona - Nasceu em Arapongas-PR, vive em Cuiabá desde 1965. É poeta, ficcionista e cronista. Ocupa a cadeira nº 4 da Academia Mato-grossense de Letras. Graduou-se em Biologia (UFMT), é mestra em Histologia e Embriologia (UFRJ), com estágios profissionais na Universidade do Chile. Professora aposentada (UFMT / UNIC). Com seis livros de poemas publicados, obteve, em dois deles (Por imenso gosto e Sopa escaldante), o Prêmio Cecília Meireles da União Brasileira de Escritores. Publicou livros de Literatura Infantil; integra antologias e revistas de Literatura.

AZUL DE FEVEREIRO, de Eduardo Mahon

Azul de fevereiro é um convite aos diferentes gestos de leitura que meu “olhar superlativo”, diria, lacunar, apaga o autor, aguarda a ouverture da ópera e o prazer (incômodo) da surpresa de cada ato. Algumas leituras são absorvidas pelas cativantes histórias envazadas em narrativas curtas, fluidas e com o ingrediente básico do conto maravilhoso; outras movem sentimentos de irritação, absorvidos pelos variados momentos de tensão entre o espaço e o tempo, as vozes narrativas e o estilo. Tudo perpassado por fina ironia que atinge de imediato o leitor, na exata dose de diversão que só a literatura é capaz de oferecer.

 Entre a fantasia e o jogo, os sentidos são arrebatados pelo que lê/observa, pelas surpresas finais e pela forma como o insólito se cola ao real.  A brevidade de cada conto é estrutura e essência. É nesse cenário de espelhos identitários, empalidecidos como a formação do arco-íris, que os contos de Eduardo Mahon convidam o leitor a se aproximar do literário, se perder e se achar, mesmo que em pequenos instantes improváveis de sua conturbada vida. No mais, é ler para crer!

"O inverossímil literário é uma invenção tão legítima quanto o avião ou a broca de dentista. Não pensem vocês que as coisas insólitas, porque não aparecem comumente por aí, não existem. Tudo pode na literatura. Esse é o meu barato: fazer possível o improvável" – Eduardo Mahon

 

Alan Cosme/HiperNoticias

eduardo mahon

Eduardo Mahon, um dos incentivadores da literatura de MT

Eduardo Mahon - É natural do Rio de Janeiro, autor de romances, livros de contos e poesias. Mora em Cuiabá-MT e é casado com a dentista Clarisse Mahon, tendo com ela trigêmeos: José Geraldo, João Gabriel e Eduardo Jorge.

Obras do autor, pela Carlini & Caniato: Nevralgias / Doutor Funéreo e outros contos de morte / O cambista / Meia palavra vasta / Palavra de amolar / Palavrazia / O fantástico encontro de Paul Zimmermann / Contos estranhos (Weird tales) / Quem quer ser assim sem querer? / Um certo cansaço do mundo / O homem binário e outras memórias da senhora Bertha Kowalski / Alegria

 BARROCO BRANCO, de Silva Freire

Um dos caminhos que justificam a reedição deste livro de Silva Freire é o aspecto do vir-a-ser da palavra “fabricada”, liberta da estrutura linguística, tão necessária ao exercício da leitura e da escrita. Os poemas aqui selecionados desafiam a leitura linear. São frutos de uma experiência em que o jogo é o inquietante movimento do olhar e dos sentidos. São sinestesias em que a ideia do verso paira sobre a arquitetura-construção, quebra as estruturas vigentes e propõe uma nova ordem estética. Seus poemas inserem-se no “tempo do novo” da recriação da tradição, cujo elemento gráfico é o traço, que caracteriza a simultaneidade de leituras da mesma palavra. É uma forma de composição organizada no espaço entre blocos, um tipo de escritura pioneira em Mato Grosso. Wlademir Dias-Pino diz que é a escritura para além do estilo convencional, aquela em que a estrutura tridimensional aproxima e afasta, abaixa e eleva, como o mecanismo de funcionamento da máquina com suas engrenagens. Essa reconstrução é o exercício da liberdade, do prazer no trato com a arte sem fronteiras e acessível a todos. Entre o fascínio e a perplexidade, o leitor está fadado a ser parte da engrenagem dos seus versos. Então, é aventurar-se.

Benedito Sant’Ana da Silva Freire - Nasceu em Mimoso-MT, a 20.09.1928, mas foi registrado em Cuiabá. Graduou-se em Direito, em 1959. Atuou em inúmeras causas sociais. Ocupou a cadeira nº 38 da Academia Mato-grossense de Letras. Ao longo de sua vida, dedicou-se a múltiplas atividades. Fundou o Grêmio Literário Lamartine Mendes, os jornais Arauto da Juvenília, Vanguarda Mato-grossense, Saci (1949) e Sarã (1951), em Cuiabá, e Japa, no Rio. Publicou textos e poemas em variados jornais, e também: Silva Freire – social, criativo, didático (UFMT, 1986); Barroco branco (Fundação Cultural de Mato Grosso/Ed. Amazônida, 1989); Depois da lição de abstração (Separata da Revista da Academia Mato-grossense de Letras, 1985); Trilogia cuiabana, v. 1-2 (UFMT, 1991); 13 Cadernos de Cultura, em páginas avulsas; Águas de visitação (1979), reeditado em 1980 (Edições do Meio), 1999 (Adufmat-UFMT) e 2002 (Lei Estadual de Incentivo à Cultura); e A japa e outros croni-contos cuiabanos (Carlini & Caniato, 2008).

 A MUSA CORRUPTA, de Santiago Villela Marques

 O premiado escritor publicava rotineiramente pela internet no endereço sociedadedospoetasamigos.blogspot.com.br., estando, portanto, na sintonia sistêmica que afeta o leitor contemporâneo. É conhecido pelo jogo de mostrar/ocultar imagens que revelam o trânsito de um eu poético colocado entre energias polarizadas (claro/escuro; yin/yang) e as ambiguidades eu/outro, tão presentes nas culturas de todos os eixos de produção. Numa especial retomada, ao mesmo tempo abstrata na essência e concreta na estrutura artística do poema, o poeta atinge a linguagem especial reveladora do “bom senso e bom gosto”. Há poetas que nascem com jeito para a poesia e se aprofundam nesse exercício. Santiago Villela é um desses demiurgos da palavra. Coloca o leitor nessa ligação afetiva da contemplação dela [palavra], numa atitude quase espiritual que não se quer clara e definida, mas na sua incompletude, ainda que para isso tenha que se revelar por inteiro (ou nem tanto). O que surgirá desses meandros é puro prazer proporcionado pelos raros espaços da linguagem penetrada em grandes ondas. Vale o encanto do mergulho!

 Santiago villela Marques - É o pseudônimo de Paulo Sérgio Marques, natural de São Paulo-SP e residente em Mato Grosso. Publicou os livros de poesia Primeiro (2004), Outro (2008), Três tigres trêfegos, em coautoria com Juliana Roriz Aarestrup e Henrique Roriz Aarestrup Alves (2010), e Selvagem (2013); e os livros de contos Ângulo bi, em coautoria com Marcelina Oliveira, Paulo Sesar Pimentel e Gisele Mocci (2002), Correspondências (2012) e Sósias (2015). Algumas de suas obras obtiveram premiações nacionais como, dentre outros, o Prêmio Sesc Monteiro Lobato de Conto Infantil (1º lugar, em 2009 e em 2010), o Prêmio Sesc Machado de Assis de Contos (2º e 3º lugares, em 2009 e 2011, respectivamente), o Concurso de Contos de Ituiutaba Águas do Tijuco (1º lugar, em 2012) e o Prêmio Cataratas de Contos e Poesias (3º lugar, em 2015).

VIVER DE VÉSPERA, de Marília Beatriz de Figueiredo Leite

Entre reticências e pontualidades, os poemas aqui elencados são passeios por um eu poético que fala com a voz da interinidade, da consciência da finitude. Vive por antecipação, em estado de não estar de todo, esse sentimento viajante deslocado (tresloucado?!), errante, na sensação de lugar nenhum e, ao mesmo tempo, de todos. No entretecido viajor, a morte é aventura, mas também, inquietação e obsessão do sujeito lírico manifesto entre o viver e o escrever. Morte é, assim, metáfora das renúncias em favor de uma visão adulta. Portanto, parte e não todo. Os poemas, assim, têm um movimento permanente, interno e surgem da estranheza perante a vida, no vácuo da certeza e dos instantâneos. Há um fio de Ariadne que tece a ideia da morte. A delicadeza inquietante da poesia de Marília Beatriz permite uma visão labiríntica que produz, no leitor, efeito do transitório e do efêmero. Os poemas, assim, são desconcertantemente maduros. O exercício de observação da circularidade é o retorno à consciência. Viver de véspera pode ser o renascer diário de vontades extremas, interpelações constantes e intuições ambíguas muito próprias do exercício de viver. Ou não.

“Ser parte da coleção Olho d’Água editada pela Carlini & Caniato e estar na companhia de tantos bambas, torna cada um de nós mais responsáveis pelas letras, palavras e emoções que lançaremos a partir de agora. O poeta adentrando no universo toma conta das formas ou dos temas e concede a todo objeto ou emoção, visão e expressão. Ele percebe a liberdade das ideias em relação ao signo, advinha, em certo sentido a presença constante do pensamento, a contingência e a evanescência dos significados e significantes. E ao encontrar a coleção Carandá degusta a prosa com seus variados e coloridos signos garantindo a presença da vibração neste box presente!”  - Marília Beatriz

 Marília Beatriz - Professora fundadora da UFMT, adjunta nível IV; mestre em Comunicação e Semiótica, pela PUC-SP. Ocupa a cadeira nº 2 da Academia Mato-grossense de Letras. Publicou O mágico e o olho que vê (Edufmt, 1982) e De(Sign)Ação: arquigrafia do prazer (Annablume, 1993).

Alan Cosme/HiperNoticias

aclyse mattos/terceira cadeira da AML

 Aclyse Mattos, com seu Sexofonista

O SEXOFONISTA, de Aclyse Mattos

Neste livro, o jogo se anuncia desde o título, pois Aclyse domina o ritmo, conhecido que é pelo “tchacoiá” de suas composições em versos. Na prosa de O sexofonista não perde a arte da sobreposição de imagens e a fabulação recai no certeiro encontro com o leitor. Os narradores com a câmera na mão, dão vida a personagens que vivem histórias comuns com pitadas de maravilhamento. Qualquer semelhança com o mundo leitor pode (ou não) ser mera coincidência na medida em que algumas adoráveis figuras ficcionais povoam as narrativas: figurantes de uma companhia cinematográfica; um gato cinzento “olhando o céu por uma telha de vidro”; vendedores de versos e sedas; mulheres rebolantes; caminhoneiros; traficantes; um músico de cabaré e outros seres tecidos nos contrapontos da técnica composicional e da polifonia. Como na música, o processo fundador da escrita de Aclyse, é a escuta. Ouvir a história gera o fenômeno dos sentidos que atuam sobre distintas partes sensitivas do leitor. Nas variadas possibilidades do jogo com as palavras o leitor é convidado a participar e se divertir com o inusitado das situações criadas, a formatação gráfica e a pluralidade dos sentidos renovados com “os olhos, luas de vidro e sonho de seda”.

"Gosto de ver, de tocar, os livros. Gosto ainda mais de ver o livro se materializar. Se escrever é uma experiência poética, dar visualidade e tatilidade ao texto na forma impressa tem que ser uma experiência estética. Aprendi isso com os Cadernos de Silva Freire. Fazer isso coletivamente ainda é mais interessante. Autores e artistas tem que se "adjodjar" mais. Prazer indescritível estar no Box comemorativo com tanta gente maravilhosa. Espero que a ideia dê certo e aconteçam outras. "O Sexofonista" aparece em segunda edição (a primeira agora é exemplar de coleção com ilustrações de meu irmão Gabriel Matos) e apresenta 4 contos ambientados no Centro-Oeste, mas também na imaginação deste sertão/cerradão. Tem Alto Araguaia, Coxipó, Rondonópolis e até uma cidade imaginár ia em que tem um Empório de Versos parecido com os bulixos cuiabanos." - Aclyse Mattos

ACLYSE MATTOS - Nasceu em 15.12.1958, em Cuiabá-MT. É professor do curso de Comunicação da UFMT; mestre em Ciências da Comunicação, pela ECA-USP; e doutor em Comunicação, pelo PPG-COM da UFMG. É também escritor, letrista e poeta, com vários livros publicados, como Natal tropical (1990), Quem muito olha a lua fica louco (2000), Festa (2012) e Sabiapoca (2018). O Sexofonista teve uma primeira edição em 1986; os contos focam o cenário mato-grossense, no clima dos movimentados anos 1980. Cinema, censura e costumes da época são retratados com humor e poesia.

POEMAS EM TORNO DO CHÃO, de Matheus Barreto

O livro é uma (de)composição poética que oferece o panorama da produção do escritor que vai, em ordem contrária, do chão cuiabano aos ecos espanhóis, numa alquimia desconcertante por onde espaço-tempo provocam texturas linguísticas singulares. Nas relações sonoras e perceptivas as palavras abrem exatamente no espaço em que se reconhecem os signos que permitem “ouvir a língua”, como fala Roland Barthes. Assim, os sentidos vão além da significação; atingem a lógica afetiva numa ordem diferente que precisa ser revitalizada pela leitura. Essa espécie de sedução dionisíaca da poética de Matheus faz pensar fora do previsível. Não é hermético, mas a leitura se prende no olhar vagaroso sobre a palavra, o seu valor semântico e sonoro, o poder de síntese que carece de escavação no limite da percepção linguística, ou fora dela. Numa permanente revolução dos sentidos, os poemas sedimentam provocações. Como estar em torno do chão e alçar voos para outras possibilidades do olhar? Até que ponto é possível extenuar a palavra de modo que ela me possua e eu seja possuído por ela? A aventura da palavra mais uma vez é o chão e o universo, o princípio e os caminhos que podem conduzir ao trabalho de deslocamento da/sobre a língua. Vamos a eles!

"Meu ‘Poemas em torno do chão & Primeiros poemas’ foi montado especialmente para o box. Eu já tinha alguns poemas 'em torno' de alguns chãos bem concretos (Madrid, Ronda, Cuiabá, Chapada dos Guimarães) e de outros menos (o chão precário da nossa mente), povoados todos eles por chocolaterias, catedrais, turistas, parentes distantes, um romance entre dois homens. O que fiz foi reuni-los, tentar encontrar um solo comum, menos estrangeiro." – Matheus Guménin Barreto

Matheus Guménin Barreto - É um poeta e tradutor brasileiro. Nascido em Cuiabá-MT em 1992, é doutorando da Universidade de São Paulo (USP), onde traduz poesias de língua alemã. Estudou também na Universidade de Heidelberg, na Alemanha. Publicou traduções de Ingeborg Bachmann em Dito ao anoitecer (2017) e Lira argenta (2017), de Bertolt Brecht em Cântico de Orge (2017) – parcerias entre Selo Demônio Negro, Editora Hedra e a editora portuguesa Douda Correria. Seus poemas e traduções estão disponíveis em periódicos no Brasil e em Portugal. É editor do site cultural ‘Ruído Manifesto’ e integrou o Printemps Littéraire Brésilien 2018, na França e na Bélgica, a convite da Universidade de Sorbonne. Publicou o livro de poemas A máquina de carregar nadas (Editora 7 Letras, 2017).

 DUPLEX, de Lorenzo Falcão e Fátima Sonoda

O que Lorenzo e Fátima oferecem vem acompanhado de dezoito narrativas curtas. Inicialmente, datadas e geografadas, passam a conduzir os dramas individuais e operar o fluxo espontâneo da vida, utilizando-se da linguagem popular. Dessa forma, consegue aliar a vivacidade do mundo e as atitudes cognitivas e práticas com ingredientes que estão na base da oralidade. Narram pelo prazer de contar, manter a memória e dar sentido à existência. A aparente simplicidade funciona como isca, pois em cada momento a estrutura narrativa se modifica, significando não só as transformações leitoras, mas a liberdade criativa e abertura dos espaços de sentidos colocados pelo leitor. A literatura não busca ensinar, pois as maneiras de olhar o mundo, a si mesmo e o outro são insubstituíveis. Lorenzo Falcão e Fátima Sonoda convidam-nos a adentrar um modo de narrar do qual, felizmente, temos exemplos primorosos na produção brasileira. Isso significa que o escritor busca aproximar-se do leitor comum para o qual cada movimento da escritura condensa motivações interiores e razões universais. É uma forma de viver (e de escrever) que se perdeu, mas continua latente pelas singularidades buscadas pelo escritor, como se poderá ver!

 "Lançar livros está entre as experiências mais prazerosas que a vida tem me reservado. Neste box, a coisa é coletiva e o prazer se multiplica. A cereja do bolo é reencontrar a Fátima que partiu para outras dimensões, mas assina o Duplex comigo (in memoriam)" – Lorenzo Falcão

Fátima sonoda e Lorenzo Falcão - Fátima Aparecida Sonoda (1955-2017) nasceu em Bauru-SP. Lorenzo de Jesus Miranda Falcão (1958-...) nasceu em Niterói-RJ. Em 1970 mudaram-se para Cuiabá e se conheceram poucos anos depois, ainda adolescentes. Optaram por uma vida a dois em 1984, com duas escovas de dentes e um colchão de solteiro. Tiveram trajetórias profissionais diferentes, mas muita coisa fizeram juntos ao longo de 33 anos, como os filhos cuiabanos Beatriz e Vítor. Além das crias, foram inúmeras as aventuras de Fátima e Lorenzo nas artes. Este livro, escrito em 2011 e lançado sete anos depois, registra uma das últimas parcerias artísticas do casal nesta dimensão terrestre.

PASSADO A LIMPO, de Icleia Rodrigues de Lima

Conhecer o estilo da autora em seu livro de estreia é entretecer fios e cores num estilo simples, cristalino e deliciosamente sedutor. A identificação do leitor é imediata no dedilhar da infância, nas lições apreendidas em cada fase da vida, nos alinhavos e chuleios da memória de uma narradora madura que olha o passado sem se perder nele, mas redesenha itinerários no presente. Singelas como são as lembranças, a narrativa escorre entre os olhos e a alma. Livro que comove, mexe com emoções guardadas representadas, segundo Borges, em vestíbulos que funcionam como portas de entrada pelas quais se acessa o interior de lacrados aposentos. Não falta aos narradores aquele raro dom que Chaplin considerava indispensável para uma boa obra literária: o sentido do humor. Por tudo o que neste livro está expresso: os problemas humanos, as marcas e costuras da vida, torna-se leitura de entretenimento, mas também de reflexão em meio aos terrenos acidentados, clareiras e matas fechadas pelos quais cada ser caminha. Não têm a pretensão de desnudar vidas, mas expor lindamente suas incompletudes, pois não é entre os estilhaços, retalhos e sendas que se caminha?!

Icléia Rodrigues de Lima - Icléia Rodrigues de Lima é graduada em Letras pela UFGO (1968), Mestra em Filosofia da Educação, pela FGV-RJ (1981); e Doutora em Educação, pela USP-FEUSP (1992). Foi professora do Curso de Graduação em Letras da UFMT, nos Programas de Mestrado em Educação da UFMT e da UEL-Londrina-PR, e no Programa de Mestrado em Estudos de Cultura Contemporânea (ECCO-IL-UFMT).

CUIABANÁLIA, de Ronaldo de Castro

A primeira edição de Cuiabanália foi realizada pela Fundação Cultural de Mato Grosso, como parte da Coleção Letras Mato-Grossenses (1989). Composto de poemas, livres em sua estruturação, funciona como paradigma para pensar a condição da literatura dita “regional”. Ao folhear este livro e embrenhar-se na multiplicidade de leituras que proporciona o fazer poético de Ronaldo de Castro, o leitor se verá cativo de uma linguagem fluida, cujo ritmo, sons e imagens transcendem sentimentos e sensações. São vozes combativas que vão do atomismo da cidade, passa pelo telúrico/lúdico e deságua em mensageiras e odes de cunho social. Evoca o jovem, a solidariedade entre os homens, a negritude, as mulheres, utilizando-se da quebra da sintaxe e do jogo linguístico, numa associação do exótico ao artístico que revela a originalidade do poeta. O caráter da obra consiste em traduzir a tradição, ou seja, a semântica local está na forma como é reinventada pelo olhar poético, gerando rupturas – ponta de lança para a novidade proposta pelos modernistas. Por essa condição particular, o acesso renovado ao livro de Ronaldo Arruda de Castro amplia o raio de abrangência da (boa) literatura produzida em Mato Grosso. A vida artística e literária que brota do interior brasileiro é razão mais que justa para gerar investimentos como estes e, principalmente, para proporcionar a superação dos (pre)conceitos.

Ronaldo de Arruda Castro - Nasceu em Cuiabá-MT, em 17.03.1941. Filho do consagrado poeta Rubens Mendes de Castro e da abnegada professora Antonia de Arruda Castro (professora Teté), praticamente aprendeu a engatinhar em meio a livros, outros materiais didáticos e intermináveis saraus literomusicais (havia dessas coisas na deliciosa Cuiabá de então), julgando-se privilegiado como ser humano por haver encontrado, no seu despertar inaugural para a vida neste mundo, ambiente familiar e social favorável de pleno ao desenvolvimento de seus pendores naturais. Foi jornalista e militante político. Publicou o livro Cuiabanália (Fundação Cultural de Mato Grosso, 1989) e textos esparsos em cerca de meia centena de suplementos literários de jornais e revistas literárias de Mato Grosso e do Brasil.

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