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Colunistas Sexta-feira, 28 de Abril de 2017, 09:59 - A | A

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Sexta-feira, 28 de Abril de 2017, 09h:59 - A | A

Saldo da saudade

ARIADNE CAMARGO

Edson Rodrigues

Taynara_Pouso

 

Certa vez, vi um vídeo sobre uma menina, em fase terminal de uma doença grave, que explicava para a mãe, que chorava, sobre o sentido da saudade. Ela simplesmente disse: saudade é o amor que fica.


O amor fica em inúmeras situações de falta, não das faltas materiais, como daquele carro que vendemos, da casa onde moramos nem das roupas que usávamos. Sentimos saudades é das pessoas, dos momentos, dos sentimentos, dos sabores, da cor que a vida tinha naquela tarde de inverno, quando o sol era quente o suficiente só para trazer um lembrete do verão que demoraria a chegar.


O amor fica na cumplicidade da amiga que segura a sua mão quando você tem medo de que descubram seu segredo, e dá uma saudade danada das malas cheias de roupas para passar dois dias escolhendo o que vestir para apenas uma noite.

 

O amor fica no cafuné com massagem de domingo de manhã e a gente sente saudade porque a adolescência já passou, os tempos são outros e, na relação, já não cabe mais aquele carinho, mas outros, com formato diferente. O amor também fica naquele bichinho de estimação que era da família, mas que alguém passou e levou, você nunca mais se esquece de como eram divertidos os banhos e as correrias pela casa.


Dá saudade do amor que ficou marcado em toda a família nas noites de natal e ano novo comemorados com pais, avós, tios, primos, gatos, cachorros, papagaio... e dos churrascos de domingo que nunca mais foram os mesmos depois que a família se partiu em vários pedaços, um em cada canto do mundo.


O amor fica naqueles momentos inesquecíveis com a irmã companheira para todas as horas, que ainda está lá e ainda é companheira, mas resolveu viver a vida em outras terras, mais geladas e molhadas, longe o suficiente para limitar a convivência e para impedir de acompanhar crescimento dos sobrinhos.


O amor fica no irmão que mora longe, saudade que dá das cordas da guitarra vibrando mil vezes as mesmas notas até a melodia sair perfeita. Faz falta o jeitinho de falar da cunhada e dá uma dor no coração ver sobrinha crescendo sem a gente acompanhar de perto.  


O amor que fica quase mata a gente de saudade daquele primo, amigo de verdade, que decidiu atravessar oceanos para os lados do povo de olho puxado e não voltar nunca mais pra perto da gente, nem que seja por uma boa fatia de picanha brasileira. Ave Maria, como faz falta esse moleque! Falta das noites inteiras conversando, falta de poder pedir socorro em qualquer momento, seja num pé quebrado, seja pra instalar uma TV, falta de cozinhar macarronada e daquele apetite peculiar. Falta das mãos lisas apertando as bochechas. Falta da meiguice da japinha bochechuda de covinhas, com aquela delicadeza absurdamente linda.


O amor fica também em outras bochechas, aquelas da prima que você só ama e com quem dividiu barraca e risadas, que faz uma comidinha muito gostosa e que adora reclamar que que está errado, que também se desgarrou para aquelas bandas geladas do sul.


Essas saudades são possíveis de aguentar porque sabemos que cedo ou tarde teremos um avião pelo caminho que trará o amor pra perto, seja do irmão ou da prima. Até planejamos para algum dia a viagem ao Japão só pra conhecer o gosto do arroz grudadinho junto com o primo. O problema são as outras saudades, daqueles que um avião não vai trazer de volta.


Saudade mais dura é o amor que ficou daquele tio careca com olhos de piscina, de gargalhada solta e leve, de abraço de urso e um jeito tão único e alegre de levar a vida, aquele que partiu cedo demais. É, tio, ainda tínhamos muito pra conversar, risadas pra dar, amor pra ficar! Aliás, o amor que fica daqueles que partem para o outro plano é complicado, a gente é obrigado a conviver com a falta sabendo que não vai dar nunca pra matar essa saudade, não nesta vida, pelo menos.


Desejamos encontrar com eles, um pouquinho que seja, que é pra ver se o coração se acalma. Quando a noite chega e a saudade está demais, juntamos as mãos, imploramos para Deus deixar rolar uma visitinha, no sonho, então sentamos com o tio para papear, comemos a comidinha quentinha da avó que partiu, ouvimos o barulho da máquina de costura dela trabalhando e, se prestarmos bem atenção, ainda podemos receber alguns conselhos.


Durante o sono, quando a alma se liberta, ela encontra aquela velha amiga de conversa, que sempre te levou a sério e se divertia com você nas festas à fantasia. Também nessas ocasiões, ouvimos o violão da outra amiga que partiu muito cedo e deixou a ausência e a presença em uma coisa só, para sabermos que a vida é para ser vivida inteirinha.


De saudade em saudade, percebemos que o que fica mesmo é o amor. Amor pelas pessoas, pelos momentos felizes (ou tristes), pelos sorrisos e por quem nós éramos em cada uma das experiências vividas, se saudade é o amor que fica, é porque saldo da saudade é o amor.

 

Sou Ariadne Camargo, inquieta mulher de 33 anos, observadora das sutilezas da vida, esposa e mãe em constante construção, professora encantada com a agitação adolescente, empenhada em contribuir para o pensar e existir genuíno de jovens com quem tenho e tive o prazer de conviver e com os quais aprendo, aprendo e aprendo!

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