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Cidades Segunda-feira, 23 de Julho de 2018, 08:47 - A | A

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Segunda-feira, 23 de Julho de 2018, 08h:47 - A | A

DESESPERO

Sem emprego, venezuelanos estão prestes a viver na rua

ANA FLÁVIA CORRÊA

No dia 19 de julho, os venezuelanos José Gregório Silva, 43 anos, e Wilfredo Tolosa, 60 anos, acordaram bem cedo e vestiram suas melhores roupas para uma missão importante: não teriam mais medo de enfrentar e denunciar as injustiças que viviam e vivem.

 

Alan Cosme/HiperNoticias

venezuelanos

 Os imigrantes buscaram ajuda na Prefeitura, mas sem sucesso

Na quinta-feira, pesquisaram no celular qual o melhor trajeto entre a Pastoral do Migrante, onde moram, até a Prefeitura Municipal. Seria um grande dia, eles esperavam. Antes de partir, José fez uma publicação instantânea em que aparecia com o conterrâneo: “Com meu amigo Wilfredo indo lutar pelos meus amigos venezuelanos.”, dizia a legenda da foto. Lá, eles esperavam encontrar uma alternativa e uma resposta: onde iriam morar, caso fossem despejados?

 

Os dois estão no limite dos três meses de abrigo prometidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) para ficarem na Pastoral do Migrante, entidade beneficente que acolhe estrangeiros de passagem pela Capital. José e Wilfredo relatam já terem sido cobrados pela instituição. Com medo de ser despejados e assustados por não conseguirem emprego, a dupla decidiu procurar ajuda na Prefeitura. 

 

“É isso o que está acontecendo, falaram para mim que eu deveria ir embora da casa pastoral e eu pergunto: por quê? Como ficar na rua sem geladeira, sem fogão, sem colchão? É algo muito ruim, não é algo de coração”, questionou Gregório.

 

Dois recepcionistas receberam José e Wilfredo na Prefeitura. Um dos funcionários explicou que ali os imigrantes não receberiam ajuda e indicou o número de telefone da Secretaria de Assistência Social e Desenvolvimento Humano. “Toda semana vem um estrangeiro aqui, mas a gente encaminha para lá”, disse o rapaz. 

 

O plano dos venezuelanos era ir até a secretaria logo em seguida, mas resolveram ligar antes por precaução. Se passava das 9 horas quando discaram para todos os números disponibilizados pelo recepcionista. Todas as ligações caíram na caixa de mensagens. A roupa social que cada um dos dois vestia já se desfazia em suor. 

 

Desolados, Jose e Wilfredo voltariam para casa sem reposta. O destino do dia seguinte era certo. Desde que chegaram a Cuiabá, eles vão até as imediações da avenida do CPA com cartazes e um português improvisado pedir dinheiro ou uma oportunidade de emprego. “Soy venezuelano, preciso trabalho ou uma ajuda”, diz o anúncio. 

 

Os dois relatam que os cuiabanos têm sido generosos e eles conseguem um bom dinheiro nas ruas. Parte do que é arrecadado fica para eles e a outra parte é enviada para a família. Até agora, não receberam nenhuma oportunidade de emprego. Com o que recebem, é impossível pagar aluguel ou comprar os móveis essenciais para manutenção de uma casa. 

 

Apesar do cenário econômico atual do país, com um índice de desemprego de 12,7% no primeiro trimestre, Mato Grosso foi o estado que mais abriu vagas em junho, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Ao todo, foram geradas 5.412 novas vagas formais no estado.

 

Desemprego

 

Alan Cosme/HiperNoticias

venezuelanos

 José vive na pastoral desde maioF

José e Wilfredo fazem parte do grupo composto por trinta venezuelanos que chegaram a Cuiabá em maio, vindos de Boa Vista, Roraima, principal porta de entrada dos refugiados.  José passou dez meses na cidade, enquanto Wilfredo ficou por dois. A cidade atualmente sofre com a superpopulação de imigrantes e, por isso, encontrar emprego se torna mais difícil por lá. 

 

A peregrinação em busca de emprego começou muito antes. Ainda na Venezuela, os dois eram guias turísticos e tinham bom salário, até que a crise assolou o país e eles se viram sem ter o que comer. José vivia na cidade de Maracay, enquanto Wilfredo vivia em Barquisimeto. Lá, em bons tempos, recebiam cerca de cem turistas por dia. Com a crise, este número caiu para dez. 

 

José deixou uma filha na Venezuela, que vive com a tia. A menina de 18 anos chegou a passar cem dias comendo só arroz. Sua mulher está em Boa Vista, mas também não conseguiu encontrar emprego. Wilfredo é divorciado, tem três filhos e três netos. Dois dos filhos estão em Manaus, enquanto o resto também está na Venezuela. A vontade de encontrar emprego vem, principalmente, da necessidade de trazer os familiares que ainda estão no país. 

 

“Eu vim para cá com a ideia de trabalhar com o que sei para trazê-los todos. Um imigrante quando chega a um país é obrigado a fazer qualquer coisa. Quero dar uma vida melhor para meus filhos e netos para que eles não percorram um caminho de pena, de sofrimento”, disse Wilfredo. 

 

Instituição

 

A Pastoral do Migrante tem capacidade para cem pessoas. Hoje, 82 vagas estão ocupadas, mas devem chegar mais 24 imigrantes na próxima semana. O entra e sai dos estrangeiros é diário, o que faz com que fique difícil precisar quantos imigrantes vivem atualmente na instituição. A Pastoral é mantida pela Sociedade dos Missionários de São Carlos e também recebe doações da população. A Prefeitura Municipal ajuda com 40% dos gastos. 

 

Segundo a coordenadora da Instituição, Eliane Vitalino, o prazo de permanência dos estrangeiros foi ampliado depois da chegada dos haitianos, em 2012. Atualmente, o prazo estimado para que um imigrante consiga um trabalho é de 45 dias. 

 

“É o tempo que a gente espera que consigam um trabalho, recebam o primeiro salário e consigam alugar um quartinho. Quando ele sai a gente ajuda com o que tem, por exemplo um colhão, um móvel usado que alguém doou, uma sexta básica”, explicou. 

 

Segundo ela, no entanto, existem casos de pessoas que ficaram mais tempo na instituição. Um imigrante chegou a ficar por seis meses, até que saiu na semana passada. 

 

“Não tem como, tem que arrumar. Não é possível que em seis meses não arrume um trabalho. Tem que conseguir um trabalho, se não conseguir tem que buscar todos os dias”, disse. 

 

“Depende muito do caso, se a pessoa já ficou três ou quatro vezes na casa não tem como voltar. Por que a pessoa não para em três, quatro empregos? São analisados casos individuais, mais o ideal é que a pessoa não retorne. Se ele já trabalhou vinte dias ele já pode alugar uma kitnet e continuar procurando por trabalho”, finalizou. 

 

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