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Cidades Domingo, 19 de Junho de 2016, 08:40 - A | A

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Domingo, 19 de Junho de 2016, 08h:40 - A | A

ENFRENTANDO O PRECONCEITO

Oprimida, transgênero revela: “todo mundo me adora, mas ninguém me quer como nora”

RAYANE ALVES

O preconceito ainda reina em praticamente todas as casas quando o assunto é a sexualidade. As dificuldades para homossexuais, travestis e trans surgem das mais diversas formas, seja nos ambientes de trabalho, supermercados, no ônibus e, principalmente, nos relacionamentos. Há casos até em que o(a) parceiro(a) sente vergonha de oficializar um namoro, limitando-o apenas ao que acontece “dentro de quatro paredes”.

 

Alan Cosme/HiperNoticias

Fernanda  de lima

 

Esse é o caso do transgênero Fernanda de Lima, 33 anos, que já não sonha mais em casar vestido de branco, adotar uma criança e viver em família. Tudo porque já sofreu várias decepções e preconceitos com os parceiros que a queriam apenas em um momento íntimo e depois tinham medo de assumir o relacionamento para as famílias. “Todo mundo me adora, mas ninguém me quer como nora”, simplificou.

 

Além dos problemas amorosos, Fernanda listou uma série de outras situações em que sofreu constrangimento devido a sua opção sexual. Uma delas é o imaginário popular de que travesti não trabalha, e sim se prostitui. Por isso, ter competência ou ser qualificada raramente fez com que ela se tornasse apta a conquistar um emprego, pois a identidade de gênero acabava se sobressaindo ao currículo, tornando insuficiente o esforço para segurar um posto de trabalho e respeito dos colegas em um ambiente de trabalho.

 

Para trabalhar na recepção de um prédio residencial na Capital, Fernanda precisou de uma indicação especial para conseguir a tão sonhada vaga. Como se já não bastasse o sofrimento de acordar às 4h para conseguir chegar ao  serviço às 6h, Fernanda ainda tem que enfrentar os olhares acusadores das pessoas que estão no ônibus e acham que ela está indo fazer algum programa ou coisa do tipo.

 

“Eu pago a passagem, sou cidadã como as demais pessoas. Mas quando coloco meus pés no coletivo, o motorista comenta de forma sarcástica: 'Nossa logo cedo. O que está procurando esse horário?' Como se a pessoa trans ou homossexual não tivesse emprego ou não dependesse de transporte público. É óbvio que se eu não precisasse naquele horário eu não estaria ali”, desabafou.

 

Alan Cosme/HiperNoticias

Fernanda  de lima

 

Buscar atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS) também é uma grande dificuldade para Fernanda. Apesar de o prontuário e todo sistema já ter evoluído para a 'inclusão' de transgêneros, diferenciando "nome de batismo" e "nome social", por exemplo, os atendentes ainda não sabem como atender este público.

 

“Elas não sabem simplesmente o que isso significa ou para que serve. Algumas chegam de colocar meu nome de batismo primeiro e o nome social depois, entre aspas. Ai eu tenho que explicar como funciona e isso é constrangedor, principalmente se me chamaram pelo nome masculino e eu me levanto, não tem como não chamar atenção da multidão. 'Uai, uma mulher com nome masculino?'”, destacou.

 

Até mesmo torcer para um time de futebol pode se tornar uma situação constrangedora, já que é comum entre os homens fazer piadas de mau gosto, como se a imagem de um travesti torcedor denegrisse o time. Coisas simples do dia-a-dia, como fazer compras, podem se tornar problemas e constrangimentos desnecessários.

 

“No supermercado e em feiras essa atitude também tem se tornado comum. Se percebem que sou travesti cobram um valor mais caro no produto. Uma vez fui trocar um fone de ouvido em um dos camelôs que ficam no centro e o dono não gostou e falou para outro rapaz que estava do lado dele: 'Travesti fazendo barraco aqui'”.

 

Fernanda conta que até já procurou a polícia para registrar boletim de ocorrência em outra situação semelhante a essa, mas quando chegou na delegacia os policias perguntaram o que ela fez para causar isso. “Não me ouvem e nem me tratam como pessoa humana. Somente se eu for acompanhada. Se for sozinha, a culpa sempre é do travesti, que já tem a fama de barraqueiro”.

 

Todas essas dificuldades já levaram Fernanda a pensar em tirar a própria vida, mas o tempo trouxe a maturidade suficiente para conseguir lidar com essas situações.

 

“Se continuasse ligando eu ia chegar à noite em casa e não iria nem dormir, porque ficaria apenas refletindo e mastigando tudo que aconteceu ao meu redor. A transexual é sempre ligada a coisa engraçada, como se fosse uma palhaça. As pessoas acham que eu sempre devo estar sorrindo e nunca estar em um dia ruim, porque se não serei um travesti desagradável, como também acontece com as pessoas gordinhas”.

Alan Cosme/HiperNoticias

Fernanda  de lima

SEXUALIDADE

 

Fernanda descobriu sua sexualidade ainda na infância, quando ia para a igreja com sua mãe e era obrigada a sentar do lado masculino. Apesar disso, não havia aquela situação estereotipada de que ela preferisse brincar com bonecas. “Brincava com meninas e meninos e também com carrinhos e bonecas”.

 

Começou a se apresentar oficialmente como Fernanda na adolescência e a iniciativa foi conflituosa, porque ao mesmo tempo em que se sentia livre, também era oprimida pela sociedade. Mas os pais aceitaram a opção sexual e colocaram regras nos relacionamentos, agindo normalmente.

 

“Se eu arrumasse namorado, nada de trazer para casa ou sair sozinha. Sempre era em companhia de algum amigo ou amiga. Não era porque minha relação não era tradicional que tudo era liberal”.

 

Fernanda conta que nunca teve um relacionamento sério com meninas. Apenas uma vez, em uma festa, beijou uma garota. “Não é que não gostei ou senti traumas. Simplesmente não é minha opção”.

  

A cirurgia para transição de gênero já foi considerada por Fernanda, que a descartou devido às inúmeras dificuldades para a realização. O principal fator é a demora no atendimento.

 

“Quando se apresenta uma pessoa saudável, até que se prove os laudos, você fica muitos anos na fila. Além disso, precisa de psicólogo, psicoterapeuta e ainda entrar na Justiça para conseguir um psiquiatra, porque eu não tenho condições de pagar. Então a gente já fica desanimado com algumas coisas da vida e acaba deixando isso de lado. Mas, mesmo mudando isso na anatomia da genitália, para a sociedade não vai interferir em nada, porque muitos vão continuar me tratando do mesmo jeito, ou talvez até pior, porque não sou mulher e nem mesmo homem”, concluiu.

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paulo 20/06/2016

normal nao é, A CRIACAO DE DEUS É HOMEM E MULHER ...mas só cabe a DEUS julgar...

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Quintino 20/06/2016

Sergio Cintra, sai do armário. Porque a revolta, santa?!

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Quintino 20/06/2016

Sergio Cintra, sai do armário. Porque a revolta, santa?!

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Luciana Cury 20/06/2016

Parabéns pela abordagem.... Relatou de forma HUMANA e CLARA o preconceito ainda enraizado na sociedade... Eu imagino o qto deve ser difícil lidar diariamente com uma sociedade egoísta e preconceituosa... :(

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Klaire Gasparoto 20/06/2016

É uma pena a sociedade ser tão preconceituosa. A Fernanda é uma pessoa maravilhosa nao merece ser tão discriminada e passar td q ela passa. É uma pessoa super atenciosa, trata todos mto bem.

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Izabel Flávia Gasparoto 19/06/2016

A Fernanda é uma excelente pessoa. Cuidadosa quando o assunto é trabalho, muito responsável. Generosa e carinhosa com os condôminos. Infelizmente existe muito preconceito e desrespeito com as pessoas.

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Sergio Cinta 19/06/2016

Vai pra PQP num tem reportagem que presta para apresentar?

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7 comentários

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