Se o Brasil é um dos maiores produtores de proteína animal e vegetal e por isso está no topo e é a esperança de alimento para todo o planeta, podemos dizer que Mato Grosso é a unidade federativa de maior importância dentro deste complexo de produção. Isso tem um preço, pois tem despertado o interesse do mundo, dos que precisam de alimentos e daqueles que fazem negócios.
Nosso espaço produtivo é muito interessante, mas não representa a maioria das nossas cidades. Nem a maioria da população está ligada ao agronegócio. Temos hoje cerca de 20 cidades consolidadas e mais umas 20 em processo de consolidação. Ainda vendemos matéria prima, carecemos de industrialização para envolver a outra parte da população que está nas cercanias desta meca das proteínas.
Os pioneiros do cerrado já começam a ter dificuldades de sucessão. Seus filhos vão para a cidade estudar e optam por outras profissões, tornando-se urbanos. A comercialização de nossas terras para empresas e estrangeiros já é preocupante. Problemas primários, como logística e transporte, ainda são barreiras que fazem o produtor perder, pelos caminhos dos portos, parte de seu lucro.
Nossas universidades não investem em cursos que incentivem o homem a fixar raízes na terra. Falta, por exemplo, curso de mecânica pesada, logística voltada para armazenamento e transporte qualificado, biodiesel, dentre tantos outros. Sem cursos vinculados a produção, nossos jovens continuam preferindo a advocacia, medicina, odontologia, engenharia e etc.
A falta de mão de obra qualificada está criando um bolsão de pobreza nas cidades mais ricas de Mato Grosso. Este contraste entre o senhor da soja e o desempregado ofusca o progresso sustentável e é neste momento que vemos que a fome não é um problema de produção, mas sim uma falha humana.
Industrializar é necessário, mas antes precisamos preparar nossos jovens para operar os processos da industrialização. Não adianta criarmos incentivos para a entrada de indústria se elas colocarem nosso povo apenas para fechar e abrir porta enquanto os grandes ganhos vão para quem aqui nunca derramou um pingo de suor.
Nossa maior riqueza precisa ser tratada com planejamento, delicadeza e visão de futuro. Não podemos perder nosso solo produtivo e muito menos nossa gente. Como a frase de um proverbio árabe que diz assim: “Se teu cão passa fome, qualquer pessoa que oferecer um pouco de comida consegue afastá-lo de ti”. A riqueza não pode ser apenas de poucos, mas também não podemos negar aqueles que sabem fazer e fazem todos os dias com seu suor o conteúdo dos pratos que matam a fome da humanidade mundo afora.
O sucesso das cidades do agronegócio atraem cada dia mais pessoas que nada entendem de produção ou tecnologia aplicada a agricultura e a pecuária e o papel do estado é equilibrar esta relação. A forma mais barata e eficiente é através da educação, afinal conhecimento é um produto insubstituível. Assim como fala Mário Franco: “Sem perceber, eu já deixei com fome quem queria apenas migalhas de mim e culpei o mundo por essa miséria de amor sem fim”.
Não podemos continuar sobrevivendo sobre os louros de poucos heroicos produtores sem colaborar para que ferrovias, hidrovias, estradas, faculdades, pesquisa e industrialização virem realidade. Sem colaborar para que nossas leis passem a ser colaboradoras de um processo sustentável. E não empecilho ao desenvolvimento e produção. A riqueza é boa, mas ela precisa ser distribuída de forma homogênea para que haja equilíbrio entre campo e cidade, isso não se faz a força, mas com trabalho cooperativo associado ao conhecimento agregador de valores para a produção.
Não podemos ter dois estados dentro do mesmo território. Um que não conhece e nem reconhece o outro. Transformar matéria prima em produto industrializado salvará não apenas o velho pioneiro do cerrado, mas salvará as próximas gerações descendentes ou não. Sem planejamento e educação o agronegócio pode ser apenas mais um ciclo, assim como tantos outros estudados nos livros de história.
*JOÃO EDISOM é Analista Político, Professor Universitário em Mato Grosso e colaborador do HiperNotícias.
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