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Artigos Sexta-feira, 15 de Março de 2019, 16:12 - A | A

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Sexta-feira, 15 de Março de 2019, 16h:12 - A | A

Maria Adenir Peraro: de Pirapó para Cuiabá

Maria Adenir Peraro é migrante do Paraná e chegou em Cuiabá de ônibus em março de 1981, com uma mala de roupas e uma outra mala tomada de livros. Tinha à época 28 anos...

NEILA BARRETO*

Divulgação

Neila Barreto

 

Maria Adenir Peraro é migrante do Paraná e chegou em Cuiabá de ônibus em março de 1981, com uma mala de roupas e uma outra mala tomada de livros. Tinha à época 28 anos. Filha de Santo Peraro e Roza Mazia Peraro, ambos descendentes de imigrantes italianos e agricultores paulistas. Pela competência dos seus conhecimentos se tornou professora no Departamento de História da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT. 

Sua vida não foi fácil. Teve que percorrer longos caminhos longe de seus pais até conseguir galgar a sua liberdade, independência e conseguir os seus objetivos: "Meus pais, ainda adolescentes, migraram com suas respectivas famílias para o estado do Paraná, com o objetivo de trabalhar nas lavouras de café. Nasci em um mês de inverno rigoroso, a seis de junho do ano de 1952, na zona rural, em um sítio, próximo a Pirapó, distrito da cidade de Apucarana, norte do Paraná. Minhas maiores lembranças de criança são as lavouras de café do norte do Paraná, com suas flores brancas como neve. Tenho 4 queridos irmãos". 

Essas características de pureza e docilidade acompanham a vida de professora Maria Adenir, até os dias atuais. Em seus caráteres transparentes você consegue observar ao mesmo tempo, a docilidade e a firmeza, o carinho e o rigor pelos caminhos certos. 

Sua formação educacional ocorreu toda no estado do Paraná, entre as cidades de Apucarana, Terra Boa, Maringá e Curitiba. "Toda a minha formação se deu em escola pública. Na cidade de Terra Boa, completei o antigo curso primário, prestei o exame de admissão e realizei o curso ginasial. Lembro-me que, à época, freiras salesianas lecionavam tanto no curso primário como no ginasial, momento em que eram constantes as atividades esportivas, musicais e teatrais. Entre as cidades de Londrina e Maringá, cursei o segundo grau (Clássico), onde o gosto pela literatura foi despertado. 

Na Universidade Estadual de Maringá (UEM), Peraro fez o curso de graduação em História (1972 a 1974). A pós-graduação, mestrado e doutorado, foi realizada em Curitiba, Universidade Federal do Paraná (UFPR), entre os anos de 1975 e 1978, onde elaborou a dissertação de mestrado intitulada Estudo sobre o povoamento e evolução da população do Norte Novo do Paraná, sob orientação da professora Altiva Pilatti Balhana. Doze anos depois, realizou o doutorado na mesma universidade e sob a orientação do professor Sergio Nadalin Odilon e Co orientação da professora Hilda Pívaro Stadnicky, da UEM, com o tema Fardas, Saias e Batinas: A paróquia Senhor Bom Jesus de Cuiabá (1853-1890), defendida em 1999 e, publicada com o título Bastardos do Império. Família e Sociedade em Mato Grosso na segunda metade do século XIX (Contexto: 2001). 

Após o término do mestrado, no ano de 1979, iniciou as suas atividades profissionais em escola pública de primeiro grau, a Escola João XXIII, na Vila Operária, de Maringá e, posteriormente, em faculdades particulares: Faculdade de Mandaguari e Faculdade de Campo Mourão. Em paralelo, trabalhou na secretaria executiva da Associação de professores do Paraná (APP), o que a aproximou das lutas dos professores de primeiro e segundo graus e de seus militantes. Esta aproximação levou-a a participar da criação do Núcleo do Partido dos Trabalhadores - PT de Maringá, em 1980, ao lado de sindicalistas bancários, advogados, docentes da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e da rede de ensino da educação pública do Paraná. Eram anos de efervescência política, de militância e de aprendizagem, afirma Peraro.

Com experiências já acumuladas e movida por uma paixão nasceu o desejo de experenciar novos caminhos. Descobriu a militância em prol das causas sociais e, ao mesmo tempo, a necessidade de trilhar novos caminhos, agora em busca de uma independência longe dos olhares paternos. E naquele momento, trabalhar em uma universidade era o meu objetivo. Elaborou o seu currículo e passou a enviar às universidades do país. Não demorou muito para receber uma carta e um telefonema. A carta vinha de uma universidade de Santa Catarina e dizia que tinham interesse em meu currículo. Nesse meio tempo, um telefonema do Departamento de História da UFMT veio para me causar sobressaltos. Era o chefe do Departamento, Antônio Crisóstomo, que, ao apresentar-se, dizia que o interesse pelo meu currículo se dava em razão de meu mestrado. Um salário alto me animava mais ainda e aceitei o desafio, pois uma semana depois já me encontrava em Cuiabá, informa Maria Adenir.

Feliz, recebi as disciplinas que iria ministrar: História Moderna, História das Américas e História Econômica. Fui contratada, inicialmente, como professora Auxiliar. Pouco tempo depois, recebia minha primeira progressão como professora Assistente, justificada pelo título de mestre. Aos poucos, fui percebendo que uma parte dos colegas também eram migrantes e procediam de outras regiões do País, como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas, Goiás, Ceará. Esta tendência foi sendo acentuada no Departamento de História e no âmbito dos demais departamentos da UFMT, como resultante do processo de reocupação do Centro-Oeste, acentuado com o sentido da construção de Brasília e pela política de reocupação da Amazônia Legal, explicita Peraro.

Recebeu o trabalho na UFMT como uma grande oportunidade da sua vida, pois nesse momento, vislumbrou a possibilidade de construir sua independência profissional pelo caminho da docência. Adaptando, ainda, ao clima da cidade de Cuiabá, longe da sua morada, dos seus pais, contou com o apoio, a colaboração e a amizade dos colegas do Departamento de História e de ricas amizades de professores de outros departamentos, como os departamentos de Educação e de Geografia. Contei principalmente com o apoio de Otávio Canavarros, com quem me casei e tive um filho cuiabano, Lucas Peraro Canavarros, hoje médico na capital de Cuiabá e orgulho dos seus pais.  Otávio Lins Canavarros é professor doutor aposentado da UFMT, também, do Departamento de História e lança o seu livro no próximo 19, com o título de “O Poder Metropolitano em Cuiabá – 1727-1752, às 19 horas, no Sesc Mato Grosso, pela Entrelinhas, em comemoração aos 300 anos de Cuiabá.

Reprodução

Maria Peraro

Professora Maria Peraro

Nos primeiros anos de atividades na UFMT, entre os anos de 1982 a 1987, integrou a Comissão Permanente de Vestibular (COPEVE), onde era responsável pela elaboração e correção das provas da área de História. Momento de grande aprendizagem com os colegas de trabalho: Thérèse Margotti, Ana Maria Moraes, Carbene França, Iolanda, João, Márcio, Icléia, e o coordenador, à época, professor Elias Alves de Andrade. Dessa experiência resultou um olhar mais crítico sobre a situação do Ensino de Primeiro e Segundo Graus no Brasil e o importante papel dos professores, em busca de excelências e qualidade de ensino. 

No âmbito da administração, ocupou, entre os anos de 2002 e 2004, o cargo de Coordenadora do Programa de Pós-Graduação, Mestrado em História do Instituto de Ciências Humanas e Sociais. Naquele momento, tive a honra de coordenar, por dois anos, a Revista da Pós-Graduação intitulada História, Territórios e Fronteiras, coordenação dividida com o professor Fernando Tadeu de Miranda Borges (Economia) e a professora Luíza Rios Ricci Volpato (História), lembrou Peraro.

Do vigor propiciado pela ambiência da Pós-Graduação resultou uma rica parceria com o professor Fernando Tadeu de Miranda Borges, mediante as publicações: Mulheres e Famílias no Brasil (Carlini e Caniato, 2005); Sonhos e Pesadelos na História (EdUFMT, 2006); Trajetórias de Vidas na História (EdUFMT, 2008); Brasil e Paraguai: Uma Releitura da Guerra (EdUFMT, 2012).

Um aspecto a ser sublinhado em sua trajetória como docente da UFMT diz respeito às pesquisas desenvolvidas e as orientações na Pós-Graduação do curso de História, que proporcionaram a Maria Adenir, imensa satisfação. 

Em relação à pesquisa, encontra-se o Projeto: Memória da Igreja em Mato Grosso. O Arquivo da Cúria Metropolitana de Cuiabá (1752-1952), junto à Arquidiocese de Cuiabá e realizado em parceria com a professora Elizabeth Madureira Siqueira, Sibele de Moraes (NDIHR) e alunas da graduação em História/PIBIC. Por sua vez, o Projeto de pesquisa Mulheres Paraguaias, Militares e Guerra do Paraguai recebeu alunos da Pós-Graduação que traziam temáticas afins. Das publicações resultantes de projetos de pesquisa encontram-se: Memória da Igreja em Mato Grosso. Catálogo de Documentos Históricos, em coautoria com a professora Elizabeth Madureira Siqueira e Sibele de Moraes (Entrelinhas: 2002); A população urbana de Cuiabá em 1890 (EdUFMT: 2005) e Edição Digital do Acervo Eclesiástico – ACMC (EdUFMT: 2011), por sua vez, em coautoria, Elizabeth Madureira Siqueira, Sibele de Moraes e Quelce dos Santos Yamashita.  

Na UFMT, Maria Adenir teve o primeiro contato com a ADUFMAT – Associação dos docentes da Universidade Federal de Mato Grosso, em 1982, quando filiou-se à Associação, hoje seção Sindical do ANDES. "Posso dizer que, a partir daí, procurava acompanhar o movimento das lutas e reivindicações dos colegas docentes da ADUFMAT, muitas das quais resultaram em greves. Das greves, tenho lembranças de quando participava do grupo que arrecadava fundos, o chamado 'Fundo de Greve', geralmente coordenado pelo professor Koiti Anzai. Tenho as melhores lembranças deste tempo em que tínhamos muita alegria e disposição durante as greves, que lotavam o teatro da UFMT e disputávamos espaço", recorda Peraro.

Aposentada desde o ano de 2009, permaneceu como professora colaboradora do Programa de Pós-Graduação em História até 2015, quando encerrou as atividades de orientação, junto à UFMT.

A partir de abril de 2017 ocupa a Diretoria de Assuntos de Aposentadoria e Seguridade Social, da Associação. "Aceitei o desafio de ingressar na ADUFMAT com muita honra e responsabilidade. Entre os desafios encontra-se o de contribuir para a escrita da história da ADUFMAT, como uma forma de celebração dos seus quarenta anos de criação e existência. O outro desafio, o de criar condições para que os colegas que integram o GT Aposentados escrevam sobre suas experiências de vida, como docentes, agentes históricos que foram e ainda continuam sendo, na UFMT", informa Peraro.

Para a professora, fica a expectativa de que este projeto de resgate da memória dos professores aposentados, tenha prosseguimento para além do mandato desta Diretoria, ou seja, que outros professores componentes da ADUFMAT, prossigam nos caminhos da preservação da memória.

Em breve, a professora Maria Adenir lança a sua pesquisa sobre as atividades da ADUFMAT pelos seus 40 anos de história, por meio da editora entrelinhas, em Cuiabá.  

(*) NEILA BARRETO SOUZA BARRETO é jornalista, escritora, historiadora e Mestre em História e escreve às sextas-feiras para HiperNotíciasE-mail: [email protected]

 

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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