Não serei mais devorado pelos dias sem solver a intensidade dos momentos, o aroma da hortelã na xícara de chá da manhã. Sentirei cada gota de água morna escorrendo pelo corpo durante o banho, darei atenção aos pequenos gestos carregados de encantamento e eternidade, sem deixar que se percam na repetição mecânica dos filmes mentais de preocupação e sofrimento que carregam a vida para longe do agora.
Não me deixarei devorar pelos dias sem ouvir o falar das pessoas, escutando atenciosamente, sem julgamentos, cada frase. Colocarei no meu ouvir a compaixão de saber que cada pessoa acredita na sua verdade e tem uma maneira própria de ver e sentir o mundo, com as marcas adquiridas ao longo das veredas e caminhos que atravessou.
Buscarei ver as pessoas sem os véus de obscurecimento e ignorância, percebendo dentro delas uma centelha da Natureza Divina, feita de Amor e Perfeição, ainda que esta centelha esteja adormecida, dentro de sementes que um dia brotarão com toda intensidade e beleza.
Não levarei a vida tão a sério a ponto de não perceber a transitoriedade de tudo quanto há e o desequilíbrio que existe nos extremos. Descobrirei a medida certa das coisas, o caminho do meio entre a pressa e a lentidão, entre o medo e a coragem. Não serei emocionalmente meloso e nem racionalmente frio, não me julgarei menor ou maior do que sou.
Me sentirei pleno com o que conquistei, sem perder a perspectiva de novos horizonte e desafios.
Saberei que acima de verbos como ter, conhecer e conquistar está o verbo amar, caminho da sabedoria e da ciência do bem viver, caminho do perceber todos os seres e elementos da natureza como importantes. Pois nada seríamos sem o ar, o solo, as plantas, os insetos, sem nossos ancestrais mais distantes, sem o calor das primeiras estrelas.
Por isso não serei mais devorado pelos dias sem reconhecer que frente à dor e a alegria de viver, nesta dobra cósmica de realidade, fica a gratidão pela oportunidade do aqui e agora e a humildade de ainda não compreender plenamente minha ligação essencial com o vazio e a imensidão do universo que me fez abrir os olhos e respirar.
(*) PAULO WAGNER é Escritor, Jornalista e Mestre em Estudos de Linguagem pela UFMT e escreve para HiperNotícias aos sábados. E-mail: [email protected]
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